No palavra de especialista de hoje, apresentaremos o saldo do mês de agosto. Além de destacar a dinâmica persistente de alta nos preços e a atual situação fiscal do país.
O mês de agosto, infelizmente teve um saldo econômico e político extremamente negativo, apesar de alguns aspectos positivos. Dentre os piores pontos, o temor sobre o fiscal continuou gerando calafrios, seja pela PEC dos Precatórios ou pelo próprio PLOA.
Para começar, exploraremos as alterações de cenário que promovemos aqui na Ativa investimentos ao longo do mês passado. Agosto se iniciou com um dado de IPCA em linha com o esperado, mas em patamar muito elevado (0,96%) e exibindo uma dinâmica muito ruim dos preços, o que já ensejaria por uma elevação nas expectativas. Contudo, para piorar ainda mais, a escassez hídrica fez com que a Aneel reajustasse novamente as bandeiras, o que per se elevou as expectativas de inflação em cerca de 40 pontos. Assim, as perspectivas para o IPCA de 2021 saltaram de 7,1% para 7,5%.
Nossa revisão teve a companhia do mercado, que não se limitou a ajustar a inflação apenas de 2021, tratando de contaminar as expectativas de 2022.
Como avaliamos que o Banco Central é comprometido com sua meta de inflação e fará o que for necessário para conduzir o IPCA para a meta de 3,5% no ano que vem, ao invés de elevarmos a projeção para o IPCA de 2022, que seria o produto da inércia da alteração promovida no IPCA deste ano, resolvemos alterar a perspectiva de Selic para 2021.
Com isso, para promover a convergência, avaliamos que o BC deverá conduzir o juro para 8,5% ainda este ano, patamar que deverá permanecer inalterado por todo 2022.
Infelizmente o canal de transmissão no qual a política monetária irá se propagar para a inflação será a atividade, com a restrição a liquidez do sistema, encarecimento do crédito e desincentivo ao consumo instantâneo, ou seja, recuamos a perspectiva sobre o PIB de 2022 de 1,8% para apenas 1,6% de crescimento.
Assim nosso cenário piorou sensivelmente, com mais inflação, mais juros e menos PIB, o que infelizmente acarretará em desemprego constante ao redor de 15%.
Para piorar ainda mais a situação, o risco fiscal se ampliou. O governo tenta alternativas heterodoxas de remoção/contorno do pagamento de precatórios através de uma alteração constitucional. Além disso, prejudica a capacidade de solvência e trajetória de dívida, dado que a pretensão é de que o espaço orçamentário seja ocupado com mais gasto. Além disso, a alteração atribui mais risco ao Brasil, uma vez que a solução foi destruir o arcabouço fiscal ao invés de cumpri-lo independente da circunstância.
Com isso em mente, o governo entregou um projeto orçamentário para 2022 que nasceu para morrer, uma vez que o próprio executivo quer alterá-lo de antemão. Isso sem considerar que os parâmetros utilizados para os indicadores são dissonantes com as expectativas de mercado, majorando receitas e minimizando gastos.
Todo esse temor já foi precificado pelo mercado no juro futuro, o que foi suficiente para colocar as condições financeiras em patamar restritivo antes mesmo da taxa básica de juro superar seu patamar neutro.
Em conclusão, nosso cenário piorou em agosto e o fiscal segue gerando temores de descalabro.