Nos últimos dias, os rumores de que o Grupo Casino estaria articulando a venda de sua participação no Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), e a disputa pelo controle majoritário da companhia entre os empresários Michael Klein, da Via Varejo (VVAR3), e Abilio Diniz, ex-dono do GPA, atraíram os olhares dos investidores para a empresa, o que fez com que suas ações valorizassem 8%.
Porém, mesmo com este salto no valor das ações do varejista, vale a pena investir na empresa? Como essa briga de cachorro grande pelo controle da companhia implica em suas operações e, consequentemente, nos seus resultados futuros?
Em 1999, o Grupo Pão de Açúcar fez uma aliança estratégica com o grupo francês Casino, que adquiriu 24,5% de seu controle acionário na época.Antes, vamos resumir brevemente os eventos semelhantes que ocorreram na história do grupo.
Após seis anos da chegada dos franceses, um acordo foi selado entre o Casino e o Grupo Diniz – mais especificamente com o empresário Abílio Diniz-, determinando o compartilhamento do controle da companhia por meio de uma sociedade holding, cujo capital votante foi divido igualmente entre os dois grupos.
Adicionalmente, foi estipulada uma cláusula que concedia ao Grupo Casino o direito de assumir o controle isolado da empresa a partir de junho 2012. Mais adiante, este será um dos pontos centrais do imbróglio envolvendo o Grupo Casino e Abilio Diniz.
Ao longo de toda a década de 2000, a companhia continuo realizando sua expansão orgânica e inorgânica, conquistando participação relevante no setor varejista. Em 2004, por exemplo, a empresa se associou ao Grupo Sendas, líder no segmento no Estado do Rio de Janeiro.
E em 2007, adquiriu 60% da participação societária da Sendas Distribuidora S.A. Já em 2009, a empresa comprou a parcela remanescente da Sendas, passando a ter o controle total do capital da sociedade.
Em 2011, para não perder o controle da companhia da sua família, Diniz tentou realizar uma fusão entre Pão de Açúcar e o Carrefour do Brasil (CRFB3), com a ajuda do BTG Pactual (BPAC11), de André Esteves.
Entretanto, o grupo francês conseguiu barrar a iniciativa do empresário brasileiro, com o conselho de administração do Casino rejeitando a oferta de fusão e o BNDES não confirmando o seu apoio. Esse caso abalou a relação entre o empresário brasileiro e o grupo francês.
Em 2012, após forte pressão do Casino, o GPA informou que as duas partes chegaram a um acordo para a emissão de 19,375 milhões de ações preferenciais do Casino pela mesma quantidade de ordinárias emitidas pela Wilkes detidas por Abilio Diniz.
Em setembro de 2013, os acordos de acionistas da Wilkes e da companhia foram rescindidos, fazendo com que o grupo francês ficasse como controlador isolado do GPA.
Com essa nova fase, a companhia deu entrada em novos segmentos do varejo. Em dezembro de 2013, através da oferta secundária de ações da Via Varejo, o GPA passou a deter 62,3% das ações ordinárias desse varejista e 43,35% do capital total da empresa.
Além disso, o período também se caracterizou por algumas reorganizações societárias e investimentos em companhias do varejo digital, como a Cnova.
Em novembro de 2016, com o objetivo de focar suas atenções no segmento de varejo alimentar, o Conselho de Administração e a diretoria do GPA autorizaram o início de um processo de alienação da participação acionária da Companhia na Via Varejo.
Desta forma, em junho de 2019, o GPA alienou a totalidade da sua participação no capital social da Via Varejo, adquiridas pelo preço de R$4,90 por ação pelo empresário Michael Klein e outros investidores.
Ações GPA em alta
Em 2019, buscando expandir sua presença geográfica no setor de varejo de alimentos, o GPA orientou que sua subsidiária Sendas realizasse uma oferta pública para a aquisição da totalidade das ações de emissão do varejista colombiano Armacenes Éxito, um dos maiores da América do Sul. Na transação, foram desembolsados R$9,5 bilhões pelo GPA por 96,7% do capital da empresa colombiana.
Enquanto isso, o Grupo Rallye, controlador do Casino desde 2017, passou a ser pressionado por acionistas para reduzir seus níveis de endividamento, o que desencadeou uma série de desinvestimentos em operações de menor relevância para o grupo ao redor do mundo.
Um exemplo deste movimento foi o rumor surgido este ano sobre a possibilidade de oferta de ações da Cnova por parte do Grupo Casino, fato que impactou as ações do GPA, que possui 34% de participação na Cnova.
Em seguida, surgiram rumores sobre a possibilidade de venda da participação do GPA no Grupo Éxito. Já na última segunda-feira, foi noticiado que o Casino contratou o BR Partners para iniciar a estruturação da venda de sua fatia no GPA.
Esse conjunto de variáveis deixaram as ações de GPA super aquecidas na Bolsa de Valores. Na visão do mercado, as ações de GPA poderiam destravar o valor com as possíveis vendas de suas participações em Cnova e Grupo Éxito. Isso porque, somente as participações de GPA nessas companhias já vale o seu valor de mercado na B3.
Além disso, a venda da fatia de GPA pertencente ao Casino poderia significar o fim de possíveis conflitos de interesse entre a empresa e seuss acionistas, uma vez que não haveria mais a necessidade de se desfazer de ativos por conta do endividamento dos seus controladores.
Soma-se a isso, uma possível venda que viria embutida de um prêmio de mercado, que poderia fazer com que as ações da empresa surfassem o momento.
Para deixar esse cenário ainda mais favorável à valorização acionária, podemos esperar a volta de acionistas como Abilio Diniz e Michael Klein que, segundo rumores de mercado, podem estar comprando ações da companhia com o intuito de recuperar o controle da empresa.
Movimento que seria positivo, já que abriria espaço para controladores interessados na expansão da companhia no varejo alimentar brasileiro.
Como podemos observar, não é de hoje que o GPA está envolvido em momentos de transformação societária e, pelo visto, essa novela está longe de um desfecho.
Talvez, com a chegada de acionistas mais comprometidos com suas operações aqui no Brasil, podemos ter um longo período sem grandes mudanças e com uma empresa mais focada em gerar valor para o acionista, pois todas essas alterações, disputas e rumores, querendo ou não, podem trazer distrações para sua diretoria num momento importante no setor dos supermercados.