Otimistas dirão que a falha na operadora durante o call de resultados da NeoEnergia (NEOE3) foi o único defeito apresentado na divulgação de resultados da companhia, que inaugurou a temporada de balanços do segundo trimestre.
Otimismo à parte, a empresa entregou um resultado acima das expectativas e deu uma agradável amostra do que pode estar por vir nas próximas semanas.
Entretanto, o que o investidor pode esperar da empresa nos próximos meses e do setor elétrico como um todo, em especial em um cenário com problemas conjunturais, como a crise hídrica que enfrentamos?
Primeiramente, vale destacar que a base de comparação apresentada por uma quantidade significativa de companhias que atuam no segmento de distribuição de energia é fraca, o que pode conferir às variações apresentadas um tom superlativo.
O investidor também pode se questionar quanto à capacidade das distribuidoras em manter as altas taxas de crescimento que serão possivelmente apresentadas, especialmente quando levamos em consideração o panorama do setor elétrico brasileiro atual.
Em relação a isso, é interessante lembrar que o CEO da NeoEnergia, Mario Ruiz-Tagle, durante a primeira teleconferência de resultados da temporada, ao ser questionado sobre o impacto da crise hídrica nas atividades de distribuição, afirmou que, independente da conjuntura, 2021 é o ano da execução.
Neste sentido, espero que as necessárias ações a serem formuladas pelos agentes do setor no tocante à adequação da demanda em função da restrição de oferta não venham a prejudicar o movimento de recuperação bem como os próximos resultados das companhias do setor.
Após um 2020 desafiador, em que a maioria dos projetos ficaram engavetados, os sinais de normalização começam a aparecer, os últimos leilões de distribuição e transmissão terminaram sem lotes não adquiridos e ainda que as taxas estejam comprimidas, a expansão volta a fazer parte do planejamento das companhias, como da própria NeoEnergia, que mesmo mais alavancada após adquirir a CEB e o Lote 2 no leilão de transmissão de dezembro de 2020, volta os olhos para ativos brownfield.
Em relação aos setores que compõem a cadeia de energia elétrica, mesmo que diante de uma crise hídrica, seus efeitos ainda não serão fortemente sentidos neste trimestre.
Para as geradoras, estimo maior impacto a partir do terceiro trimestre, justamente quando o período seco no país deve atingir seu auge. Ademais, como mecanismos como GSF e PLD apresentaram distorções apenas no final deste trimestre, avalio que isso não deve causar grandes perdas às suas demonstrações de resultados atuais.
Para finalizar, dou uma dica para o investidor que busca no setor elétrico robustos dividendos: a crise não deverá causar nenhuma transformação na política de distribuição de proventos de geradoras como Cesp (CESP6), Engie (EGIE3) e AES Brasil (AESB3), mas pode impactar negativamente a distribuição em 2021.
Desta forma, acredito que uma posição nas transmissoras, como Taesa (TAEE11) e Isa Cteep (TRPL4), confere atualmente menor risco à esta estratégia, uma vez que o segmento é o que menos sofre com a disfuncionalidade do momento hídrico do país, dado que sua remuneração se dá por disponibilidade.
Com relação às distribuidoras, como NeoEnergia já antecipou, teremos volumes distribuídos dilatados e vale a pena ficar de olho sobretudo em companhias com alta penetração na classe industrial, como Energias do Brasil (ENBR3), e posicionadas nas Regiões Nordeste ou Norte, como Equatorial (EQTL3).