Responda rápido: por acaso quando você vai ao mercado da esquina da sua casa fazer as compras semanais, e verifica que o preço do contrafilé de uma semana para outra subiu de R$39,00 para R$59,00, você compra esse corte de carne ou vai procurar algum outro corte semelhante que não esteja tão caro?
Se você seleciona o que está caro e o que está barato no seu dia a dia, por que no mercado financeiro, mesmo tendo centenas de outras opções, você compra ativos que estão caros frente a seus pares?
Meu nome é Felipe Vella, sou analista CNPI-T da Ativa Investimentos, e hoje vou te mostrar por que é muito importante você entender o melhor timing para comprar uma ação e como não pagar caro por algo que já performou o que poderia performar.
Hoje, inúmeros analistas e educadores financeiros defendem a estratégia BUY-AND-HOLD com unhas e dentes, eles indicam para seus clientes comprar o ativo todo mês, independente do cenário, até que o ativo não faça mais sentido da perspectiva fundamentalista.
O problema é que em inúmeros casos, como por exemplo CIELO, IRB Brasil, Cogna e inclusive o caso mais emblemático da nossa época, as empresas X, geridas pelo empresário Eike Batista, só demonstraram perderem seus fundamentos quando já era tarde demais.
Nesses casos, o investidor acaba “casado” com a ação de uma empresa que não faz sentido, e que não vai voltar para seu preço de compra:
Por anos…
Décadas…
E muitas vezes, nunca mais (veja caso da OGX por exemplo):
Acima vemos a evolução de preços de DMMO3, antiga OGXP3, que chegou a ser o terceiro papel com mais volume da B3, antigamente estava na composição do índice IBOV e foi figurinha carimbada em todas as carteiras das maiores casas de análise.
Imagine você comprando todo mês um papel como esse, ficando com um preço médio de mais de R$100 e a cotação atual do papel por volta de R$0,80.
O escândalo da OGXP3 só veio à tona após alguns anos do papel listado, e saiu da composição do IBOV em outubro de 2013, porém, a empresa ainda se manteve no segmento “Novo Mercado”, sinônimo de Boa Governança por um bom tempo.
Abaixo temos um caso mais recente, IRB Brasil, uma das queridinhas do mercado, aparecia em todas as carteiras recomendadas, entrou na composição do IBOV em maio de 2019 e continua até hoje.
Veja que a ação subiu mais de 400% de 2017 a 2019, em linha reta, sequer houve uma correção. Então, em 2 meses o papel caiu mais de 85% e continua nas mínimas até hoje, após escândalos contábeis e fiscais. Ninguém poderia prever os escândalos que envolveram a empresa, mas poderíamos sim ficar de fora do papel pois ele estava caro sem entregar nenhuma correção.
E digo a você, um outro ponto importante a ser estressado: a diferença entre a variação de um ativo que acaba de cair até voltar ao seu preço de entrada (onde você o comprou).
E essa diferença percentual aumenta exponencialmente com o aumento do percentual de prejuízo.
Quando o ativo cai 50%, ele precisa subir outros 100% para se recuperar, exemplo, VALE começa o dia cotada a R$100,00, se a ação cair 50% ela finalizaria o dia cotada a R$50,00. Supomos que no dia seguinte VALE suba 50%, ela finalizaria o dia cotada a R$75,00 e não mais a R$100,00. Para que ação volte a R$100,00 e ela precisaria subir 100% e não 50%.
No caso que exemplificamos no gráfico acima, IRBR3 após a queda de 85%, precisaria subir 566,67% para voltar ao preço que você hipoteticamente teria comprado. Quanto tempo levaria para atingir 566%??? Você não pode ficar exposto assim.
Temos como evitar essa situação?
Sim! Utilizando alguns fundamentos básicos da análise técnica para entender 2 coisas:
Quando um ativo está caro demais, esticado frente a seus pares e média histórica, você deixa de comprá-lo, e somente passará a cogitá-lo novamente quando já tiver corrigido e deixado um sinal de força, demonstrando que voltará a subir em um período próximo.
Existem diversas maneiras de evitarmos pagar caro demais por um ativo: variação frente a suas médias móveis, alguns indicadores de compra como IFR e Estocástico lento, e mesmo a comparação do quanto este papel entregou frente a outras empresas do mesmo setor, podem te tirar de uma enrascada.
Um exemplo claro de uma boa escolha aliada ao timing seria LREN3.
Lojas Renner passou por um famoso rali de alta entre 2012 e 2018, onde o papel apreciou mais de 350%.
Veja as setas marcadas em vermelho e em seguida as setas marcadas em verde do gráfico.
Um investidor que não se importa com o preço de entrada, e que aportou 4 vezes ao longo desse rali de alta, comprando nas 4 setas vermelhas ficou com um preço médio total de R$20.71. O ativo chegou a marcar máximas em R$60,53 antes da pandemia, trazendo assim uma rentabilidade de 292%.
Porém, alguns filtros básicos te ajudariam a melhorar seu timing de entrada e evitariam os aportes nas setas marcadas em vermelho, te ajudando assim a fazer aportes nas setas marcadas em verde no gráfico, e caso esse timing de entrada tivesse sido utilizado, no caso da ação LREN3, você teria uma diferença de mais de 95% no seu resultado, acumulando uma rentabilidade de 388%.
Resumindo, a compra de ativos de renda variável a qualquer preço, sem filtro e sem um bom timing, pode te deixar com um abacaxi na mão.
Já a escolha de um ativo com bons fundamentos, aliada a uma boa análise de timing de entrada, pode não só te salvar de uma enrascada, como te dar uma oportunidade de extrair ainda mais valor de uma boa empresa, para se tornar sócio a longo prazo, comprada a um preço justo ou até descontado.
Preço só não importa como gera maior possibilidade de lucros.