No Palavra do Especialista de hoje, discorreremos sobre o atual patamar da taxa Selic e as nossas perspectivas para a mesma até o final de 2021.
Como sabemos, a taxa de juros serve de referência para as negociações de títulos públicos no sistema especial de liquidação e custódia, mais conhecido como Selic.
A taxa Selic serve como balizador para as outras taxas de juros da economia. Portanto, em um dos canais de transmissão da política monetária, quando o Banco Central (BC) afrouxa a meta da taxa de juros, o custo do crédito diminui, barateando a tomada de empréstimo, bem como o financiamentos e serviços.
Por outro lado, com os juros mais altos, o BC contêm o excesso de demanda que pressiona os preços, já que a Selic alta encarece o crédito no modo geral.
Outro canal é a remuneração de capital, que no curto prazo se torna menos atrativo em quedas, estimulando o consumo no presente, e em momentos de elevações dos juros, a atividade econômica é desestimulada, favorecendo a intertemporalidade.
Como ferramenta de combate à pandemia, nos últimos meses, observamos o BC diminuir diversas vezes de maneira consecutiva os juros básico da economia. Não obstante, o Copom (Comitê de Política Monetária), em sua última reunião realizada no dia 17 de junho, optou pelo seu oitavo corte consecutivo, e, decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em 75 bps, levando-a para 2,25% ao ano (renovando a menor taxa de juros da história), conforme amplamente esperado pelo mercado.
O Copom tem como objetivo conduzir a inflação à meta estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), valendo-se dos canais supracitados. Isso implica que uma redução dos juros em um momento demora até que tenha seu objetivo alcançado.
No comunicado feito pelo Copom após a decisão, o BC afirmou que: “Neste momento, o Comitê considera que a magnitude do estímulo monetário já implementado parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da covid-19”.
Entendemos que, nesse trecho, o BC sinaliza para uma interrupção nos cortes, uma vez que em nosso entendimento já começamos a assistir nos dados de alta frequência sinais de que o fundo do poço já passou.
Evidentemente que os sinais precisam ser mantidos e nosso cenário contempla a perspectiva de recuperação gradual sem nenhum sobressalto adicional da pandemia por aqui.
Vale destacar que os dados de junho recém-divulgados pela Fenabrave, nos quais o Banco Central deposita parte de sua atenção para avaliar a atual conjuntura, sinalizaram breve recuperação. Ainda que em patamar negativo na comparação interanual, os dados mostraram que a queda de mais de 70% observada no mês anterior foi quase reduzida à metade em junho.
Adiante, ainda em seu comunicado, a autoridade apontou que: “Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual”.
Entendemos que a palavra “eventual” é chave para o entendimento desse trecho, uma vez que a avaliação proposta pelo BC pressupõe interrupção dos cortes, mas “eventuais” (que pode ou não ocorrer – a depender da conjuntura) será pequeno (avaliamos 25 bps).
Deste modo, reafirmamos nossa perspectiva de que a Selic permanecerá no atual patamar até o final de 2021, quando passará a ser elevado gradativamente até a taxa de juros que estimamos neutra na economia (6%).
Atualizando a discussão, na última segunda feira (29/07) tivemos acesso ao relatório Focus do BCB (boletim que traz o resumo das expectativas do mercado), no qual o destaque foi a projeção da taxa Selic para 2020.
Apesar de termos como cenário base que o atual patamar da Selic já atingiu seu fim de ciclo (2,25%), o mercado agora prevê um novo corte 25 bps na taxa de juros.
Por fim, destacamos que, em um cenário alternativo, acreditamos que se o BC decidir por afrouxar novamente o juro, isso só ocorrerá mais ao fim do ano e não imediatamente na próxima reunião, uma vez que as decisões do término de 2020 serão pautadas em posse de dados mais consistentes sobre a conjuntura, além dos dados de alta frequência indicarem mínima reação.
Por Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, e Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos