Mercados contando os dias, setor de relacionamento com o investidor em polvorosa, conferências com analistas sendo marcadas, modelos prestes a serem atualizados e aquele clima de standby que se instala entre os investidores. É, os dias que antecedem a divulgação dos resultados não deixam mentir. Vem aí mais uma temporada de resultados.
E esta promete ser especial. Mais do que comprovar a bottom zone dos cíclicos domésticos, as companhias farão um esforço maior pra prover aos seus investidores informações que demonstrem que a retomada virá a partir do terceiro trimestre. Mas antes de falar na retomada, vamos focar nesta temporada. O que esperar?
Mercado espera forte queda nos earnings e projeta aumento no P/E para os próximos 12 meses.
Como dissemos em cartas e relatórios anteriores, esperamos que o setor de turismo, consumo, vestuário, shoppings, o downstream de distribuição de combustível e o setor de infraestrutura, como companhias com participação em rodovias, siderúrgicas e construtoras, devem ser os mais afetados.
Em termos de empresa, GOLL4, AZUL4, CVCB3, ABEV3, LREN3, BRDT3, BRKM5, BRML3, CCRO3, CSAN3, CSNA3, CYRE3, ECOR3, EMBR3, GGBR4, HGTX3, IGTA3, LAME4, MRVE3, MULT3, NTCO3, RAIL3, RENT3, UGPA3 e USIM5 devem ter dificuldades em encontrar predicados operacionais que substitua as dificuldades encontradas pelas mesmas ao longo do trimestre.
Por outro lado, as exportadoras devem apresentar perenidade e resiliência em seus fluxos de caixa. Empresas de mineração, óleo e gás, proteínas e celulose devem avançar nesta temporada. VALE3, BRAP4, SUZB3, PETR4, MRFG3, KLBN11, JBSS3 e BEEF3 são alguns exemplos de empresas que devem informar boas demonstrações de resultado.
Nas elétricas, acreditamos que geradoras e transmissoras apresentem resultados mais perenes que as distribuidoras, que além da queda na demanda, devem absorver, em algum impacto, o aumento da inadimplência e de perdas. Nesse sentido, EGIE3, ELET3, TAEE11, TRPL4, TIET11, ALUP11, CESP6 e OMGE3 devem sofrer menos que CMIG4, CPFE3, ENBR3, ENGI11, EQTL3, CPLE6, LIGT3 e NEOE3. Destas, EQTL3, NEOE3, LIGT3 nos trazem maiores dúvidas operacionais.
Com relação aos bancos, temos consciência que a assimetria nos mecanismos de oferta e demanda de crédito devem impactar os balancetes. Desta maneira, ITUB4, BBDC4 e BBAS3, que efetuaram provisões de maneira mais conservadora no primeiro trimestre, devem apresentar números qualitativamente acima de SANB11.
Ainda em financials, ITSA4 repercutirá, em tese, a saúde reportada por ITUB4. B3SA3 deve reportar sem maiores problemas, enquanto BBSE3 pode se aproveitar de uma carteira de menor risco e apontar menores perdas com redução de prêmio.
Por outro lado, a piora no cenário macro deve fazer com que CIEL3 verifique impactos e observe relevantes questões na implantação de sua estratégia de expansão de base. BPAC11, por estar num nicho menos estressado, deve observar maior estabilidade nos seus números. O mesmo não esperamos de IRBR3, que pode demonstrar surpresas.
Temos boas expectativas quanto ao setor de comunicação e esperamos bons resultados de TIMP3 e VIVT4. Quanto a OIBR3, somos mais céticos. Esperamos queda nas sinistralidades das companhias de saúde. Mesmo com o avanço da pandemia, HAPV3, GNDI3, SULA11 e QUAL3 podem surpreender positivamente. FLRY3 e HYPE3 podem enfrentar maiores obstáculos, mas também podem ir bem. Também esperamos resiliência na divulgação dos players não discricionários do varejo, como PCAR3, CRFB3 e RADL3.
Na linha das distribuidoras de energia, as companhias de saneamento devem reportar de forma aquém a outrora. Tanto SBSP3, SAPR11 como CSMG3 esbarrarão em maior inadimplência, queda na demanda e no faturamento. Em educação, COGN3 e YDUQ3 devem reportar dificuldades.
Por fim, esperamos perenidade e certo avanço no resultado de TOTS3 e no varejo de eletroeletrônicos, cujas vendas de e-commerce devem suportar os resultados de BTOW3, LAME4, VVAR3 e MGLU3.
Como observamos, múltiplas incógnitas estarão em jogo durante essa temporada e, como sempre, seremos surpreendidos, positiva ou negativamente, a cada divulgação. Mesmo os dados já estando consumados, a sustentabilidade dos resultados será a chave para averiguarmos de qual forma o mercado recepcionará tal resultado. A pandemia tirou potência, mas adicionou emoção e imprevisibilidade à temporada.