Passado quase um mês após a sanção do marco do saneamento, uma pergunta que percorre os corredores do mercado financeiro é: por que as ações do setor ainda não despontaram? Ou ainda: será que as atuais estatais serão competitivas no cenário deflagrado pelo novo marco do saneamento?
A aprovação do marco foi seguida de uma bela apreciação das empresas do setor, sobretudo Sabesp, que avançou 8% no dia seguinte a deflagração da sanção do projeto de lei.
O não-veto do artigo 14, cujo parágrafo primeiro explicita a não necessidade de aprovação, por parte dos municípios, do andamento da privatização de uma companhia estatal, trouxe vigor à reforma, mas não afastou por completo o problema da insegurança jurídica no setor.
A presença de cláusulas nos contratos atuais entre as companhias e os municípios ainda são alvos de estudo por parte dos envolvidos e dos investidores, que seguem sem ainda conseguir sentir qual será a competitividade futura das atuais estatais neste mercado.
O caso mais emblemático, em nossa opinião, é o de Copasa, que possui um terço de suas receitas atrelada ao contrato com Belo Horizonte, e em caso de avanços em seu processo de privatização, tornaria seu principal contrato nulo.
O veto ao artigo 16, que permitia a renovação dos contratos atuais por mais três décadas, também é algo que o mercado vem digerindo. Por mais que ele dificulte o surgimento de novas opções de contrato que não envolvam licitações, o que pode trazer mais competitividade ao setor, é inegável que o fato pode trazer a perda de receitas para as três empresas do setor que negociam ações em bolsa.
O veto deste artigo também suscitou ponderações mais acaloradas entre o governo e sua base que, em tom bem claro, discordou do veto e não descarta voltar a discutir questões referentes ao assunto. A insegurança política também ajuda a retardar os investimentos que o setor tanto precisa.
Até o momento, ainda não vimos nenhum movimento flagrante rumo a uma mudança societária. Nem mesmo os planos de investimentos das companhias abrangem operacional e financeiramente este cenário. Há sim, movimentações de melhorias internas, a fim de aumentar a competitividade das empresas e nisto, ressaltamos o trabalho exemplar feito por Sanepar, que mesmo num cenário de pandemia e forte crise hídrica, apresentou margens ainda mais saudáveis no segundo trimestre do ano.
Ademais, o cenário inusual deste ano também corrobora a decisão das empresas em diminuir o passo em prol uma movimentação mais efetiva rumo ao que será o novo normal deste mercado. Práticas conservadoras a nível de caixa e investimento tomam conta de seus balanços, que apresentaram tímidas evoluções em economias tanto em água como esgoto neste trimestre.
Nossa compreensão é que o marco abriu as portas para um mundo que ainda se mostra desconhecido e, ao somarmos os problemas que as companhias já traziam, o fazem ainda um tanto indecifrável. Mesmo que não na celeridade desejada, esperamos avanços neste mercado no segundo trimestre e continuamos tendo preferência por Sabesp, pela maior facilidade em se adequar a uma possível privatização, e Sanepar, pelas margens mais saudáveis do setor e múltiplos depreciados. Seguimos neutros em Copasa.