A balança comercial subiu: o Brasil vendeu mais?
No Palavra do Especialista de hoje, falaremos sobre a balança comercial e o que os dados relacionados a esse tema podem nos sugerir até o momento.
Em 2020, considerando até o dia 12 de junho, a balança comercial apresentou superávit de US$ 21,2 bilhões, resultado de US$ 94,9 bilhões de exportações e de US$ 73,7 bilhões em importações.Apesar de enfrentarmos uma pandemia que “paralisa” a economia, afeta o comércio mundial e restringe o acesso a fronteiras, notamos que o desempenho comparado da balança comercial no mesmo período do ano passado não deixa a desejar.
É de se supor que os efeitos da desvalorização cambial mais do que compensaram as restrições de demanda causadas pela crise. Em outras palavras, o câmbio subiu e tornou os produtos brasileiros tão mais baratos para quem consome em dólar que compensou a potencial contração na demanda global.
Como bem sabemos, o real desvalorizou mais de 40% perante o dólar ao longo de 2020. Nota-se, no gráfico abaixo, que os ganhos absolutos acumulados no trimestre iniciado em abril (pico da pandemia em diversos locais) frente ao observado no mesmo período de 2019 é de US$ 3,6bi.
Assim, a fim de entender se a hipótese suscitada anteriormente é verdadeira, devemos analisá-la perante sua sazonalidade. No relatório semanal produzido na Ativa investimentos, avaliamos a sazonalidade sem o efeito de dias úteis (que oscila muito de um ano para outros), excluído pontos excepcionais e crescimento tendencial, buscando a efetividade da exportação.
Como podemos observar no gráfico abaixo, mesmo considerando a sazonalidade histórica das exportações, vemos que esse ano de 2020 não se mostrou excepcional. Desse modo, a hipótese de que a desvalorização cambial sobrepujou a contração da demanda deve ser refutada.
Logo, aritmeticamente, resta apenas uma responsável pelo avanço da balança, as importações. Vale destacar, então, que o superávit anteriormente apontado não se deu por fatores positivos, e sim, pelo oposto.
Em outras palavras, o câmbio em patamares elevados restringiu a demanda brasileira por produtos internacionais, ou pelo menos fez com que os importadores postergassem sua decisão de compra.
O gráfico abaixo aponta exatamente para isso. Valendo-nos do mesmo método de abordagem utilizado para os dados de exportações, podemos notar que as importações médias por dias úteis estão em patamares extremamente deprimidos para o mês, a ponto de romper a mínima histórica para um mês de junho desde 1998 (pelo menos por enquanto, dado que o mês ainda não se findou).
A perenidade de tal situação é ruim para a perspectiva de crescimento do país uma vez que somos importadores líquidos de bens de capital e raiz da formação bruta de capital fixo, ainda que seus efeitos sobre a balança total mostrem-se positivos.
Esperamos que com a diluição da pandemia, a demanda se reestabeleça, sustentando as exportações. De maneira análoga, projetamos que haverá, até o final deste ano, uma apreciação cambial (até R$4,70, como já discutimos nesta mesma coluna há algumas semanas), estimulando as importações. Assim, mesmo com o superávit não sendo tão positivo, as perspectivas de crescimento, principalmente sob a ótica de sua trajetória, tornarão o caminho do Brasil mais benigno.
Por Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos
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Étore Sanchez