Conta-Covid: Solução Paliativa
No Palavra do Especialista desta semana, revisitaremos um tema outrora citado na coluna: a Conta-Covid. Esta semana, aconteceram discussões na Aneel que deliberaram o valor final do auxilio às companhias do setor, além de duas discussões adicionais que têm impacto no âmbito econômico financeiro das distribuidoras: o adiamento quanto a deliberação de garantias a nível de balanços contábeis por parte do auxílio financeiro protelado pelo governo e a recusa da inclusão dos reajustes tarifários extraordinárias das companhias ex-Eletrobras.
Falaremos primeiramente do parâmetro deliberado, a confirmação do valor de auxílio às companhias. Sem grandes surpresas, fora aprovado o valor de R$ 16,1 bilhões que será restituído aos cofres dos credores em cinco anos.
Se a medida alivia a conta de luz dos clientes dos efeitos que a pandemia poderia trazer no curto prazo, a nível de valuation, o não andamento das outras duas questões apontadas acima traz mais dúvidas para o cenário atual.
Lembramos ainda que, no relatório de inflação do mês de junho, o Bacen trabalha com aumentos nas tarifas a partir de 2021, o que mitiga o impacto do não aumento sintomático das tarifas ao consumidor.
Antes das dúvidas, vamos às certezas. De fato, o alívio econômico trazido pela medida, que pode trazer robustez aos caixas das distribuidoras já em meados de julho cai como uma luva para geradores e transmissores, que observam a probabilidade de um efeito-contágio ser bem menor. Todavia, a resolução formulada pelo governo e aprovada pela Aneel traz uma solução para o campo econômico, mas, no financeiro, ainda existem questões a serem pontuadas.
Ao postergar a decisão sobre a cessão de garantias acerca do reconhecimento do auxilio monetário nos balanços da companhia, enxergamos naquelas que trabalham com nível de alavancagem um aumento potencial de risco.
Em conversas com RI de algumas empresas e com demais fontes a par do setor, percebemos alguma surpresa na decisão e trabalhamos com o fato de elas não estarem esperando que a solução econômica viesse desacompanhada da financeira.
Em nossa avaliação, empresas como a Energisa (ENGI11), que trabalham no limiar de seus covenants, aparecem como as que que podem ser mais prejudicadas, visto a necessidade de renegociação de contratos e possíveis pioras a nível de crédito. Trazemos abaixo o nível da alavancagem das companhias do setor.
Quando observamos as expectativas do mercado acerca do fechamento do ano, vemos que já existe na precificação destes ativos uma reflexão a respeito da elevação deste rácio.
Motivos para isso podem ser a análise que as provisões realizadas ao longo do primeiro trimestre não sejam suficientes e/ou que a demanda será impactada de modo a debilitar a continuidade da pagamento das dívidas existentes. Exibimos abaixo as previsões de mercado quanto à alavancagem destas empresas no fechamento do ano:
Percebemos que o mercado atribui queda apenas para Cemig, CPFL, CESP, AES Tiete, Eletrobras e Omega Geração. Destas, CESP6, TIET11, ELET3 e OMGE3 não estão no setor de distribuição, o que facilita nossa análise: de acordo com o mercado, dentre as distribuidoras de energia, apenas CEMIG e CPFL passarão esta crise sem observar aumento em seus níveis de alavancagem.
Trazendo o que dissemos acima a respeito de nossa preocupação com a alavancagem atual de Energisa, incluímos nessa análise Light, NeoEnergia e Equatorial, com a observação que, faz-se necessário se aprofundar na situação de cada uma já que as cláusulas que tocam o atingimento de covenants são diferentes entre as mesmas. Na Light, por exemplo, as cláusulas excluem efeitos não – caixa, como provisões judiciais.
Quanto à não inclusão de revisões extraordinárias das distribuidoras ex-Eletrobras no cálculo da covid, entendemos que a Aneel agiu da maneira mais parcimoniosa. Mesmo isto podendo acarretar em aumentos nas contas dos clientes destas empresas, a reguladora agiu corretamente em não alinhar os interesses dessa conta com outras questões.
Entendemos que, esta decisão acaba afetando novamente a Energisa (ENGI11), uma vez que Ceron e Eletroacre não observarão, por ora, o ressarcimento de R$ 131 MM e R$ 33 M, respectivamente. Mesmo a Aneel tendo autorizado reajuste para sua distribuidora de Alagoas, a Equatorial também fora afetada, uma vez que a CEPISA não observará a entrada de R$ 250 MM.
As próximas consultas públicas certamente trarão mais informações para este mercado, que segue agitado. E você continua contando conosco para a tomada de decisão.
Até a próxima!
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Ilan Arbetman