Vamos falar sobre o preço de derivados do petróleo?
Nos últimos dias, a Petrobras (PETR3;PETR4) vem sendo alvo de uma série de indagações quanto ao preço de combustíveis no país.
Seu CEO, Joaquim Silva e Luna, já foi interpelado algumas vezes por diversas esferas e chegou a escrever um texto, além de convocar uma conferência com o mercado e jornalistas para reafirmar as políticas de precificação de derivados adotada pela Petrobras e que nada mudaria.
No entanto, diariamente nos deparamos com notícias que vão desde o represamento de preços de derivados à privatização da companhia: soluções que de tão antagônicas dão mostras da pressão que a companhia sofre de uma ampla gama de stakeholders e que acaba repercutindo negativamente nas expectativas que o mercado possui a respeito da companhia.
Não há dúvidas de que, no segmento de exploração e produção, o momento para Petrobras é formidável.
Aliás, quem diria que menos de vinte meses depois de uma das crises mais ostensivas que a companhia precisou driblar, sua situação financeira estaria tão equilibrada?
Vale lembrar que na divulgação do último plano estratégico em novembro de 2020, a companhia sonhava alcançar o patamar de U$D 60 bi de endividamento bruto apenas em 2022, o que foi conquistado antes do final do corrente trimestre mesmo com a distribuição de robustos dividendos, o que não se via a algum tempo.
Ademais, com um custo de extração médio inferior a U$D 5 e com o preço internacional do barril superior a U$D 80, a Petrobras tem tudo para continuar a gerar recursos de forma perene e seguir diminuindo suas diferenças qualitativas perante os pares.
Assimetrias estas que seguem motivando níveis de negociação dos papeis da companhia mais próximos aos múltiplos de empresas de mercados periféricos, como o russo, que de suas rivais mais próximas, como as petroleiras norte-americanas.
Dado que atualmente dois terços de sua produção comercial é oriunda do pré-sal, onde seus custos de extração, ex-dispêndios governamentais e frete chegam a ser menores que três dólares, avalio positivamente o momento operacional da empresa e do setor, que deve continuar se beneficiando de maiores preços do barril de petróleo enquanto o capex para renováveis cresce globo afora, comprimindo a atualização da oferta e dilatando o hiato entre a capacidade e a demanda global.
Discussão sobre o preço dos combustíveis
A Petrobras não passa ilesa à discussão envolvendo os preços de combustíveis que pratica em suas refinarias, o que diminui meu entusiasmo com o case.
Em outras palavras, as certezas que sobram no upstream faltam no refino. Em condições naturais, é muito mais vantajoso para a Petrobras direcionar sua produção para as refinarias locais do que optar pela exportação do petróleo cru, solução encontrada em situações extremas, como durante a crise da Covid-19, para minimizar o impacto da redução do fator de utilização das refinarias.
Entretanto, quando os preços no refino são de alguma forma represados, a companhia precisa encontrar soluções, como realizar o ajuste contábil da diferença de preços internamente, incorrendo em um enfraquecimento do seu balanço que impacta todos os seus stakeholders.
Não precisamos ir muito longe para nos lembrar do potencial destrutivo que o represamento de preços de derivados no país possui sobre as finanças da companhia e do próprio Brasil.
É inerente que discussões sobre precificação de derivados voltem à tona em momentos em que a companhia pratica, mesmo que de forma mais espaçada que na gestão Castello Branco, a paridade internacional, sendo que os preços internacionais seguem uma trajetória ascendente, que pode inclusive, atingir os três dígitos, o que não se via desde o início da década passada.
Faz-se necessário, no entanto, recordar que os desdobramentos das pressões sobre a companhia extrapolam o campo político e prejudicam operacionalmente a Petrobras em outras agendas, como em seu processo de desinvestimentos.
Na atual conjuntura nacional, é impossível desvincular o insucesso da companhia na alienação de sua participação em uma série de refinarias às dúvidas que existem sobre os preços de derivados no país.
É válido lembrar que os compradores de refinarias serão concorrentes diretos da Petrobras, que mesmo que vendesse todas as refinarias combinadas com o Cade, ainda se manteria como líder absoluta de share no mercado de refino do país.
Quem em sã consciência ofereceria ágio para adentrar em um mercado onde sua taxa de retorno real pode vir a ficar altamente comprometida?
Caminhos para a estabilização do preço do combustível
Olhando além, mais que a participação da companhia no preço final dos combustíveis e as polêmicas envolvendo a tributação no país, a venda das refinarias por parte da Petrobras e o nascimento de um mercado competitivo no refino nacional poderiam ser parte da solução para a estabilização de preços que o país tanto busca.
Ademais, a venda das refinarias é o principal ponto do programa de desinvestimentos da Petrobras, cuja origem fora motivada pelo insucesso da companhia em administrar seus ativos e passivos durante a última década.
Da mesma maneira que o momento é construtivo para as cadeias superiores da indústria petrolífera, a tomada de decisões equivocadas no ambiente do refino pode fazer a companhia perder uma ótima oportunidade de aproveitar as possibilidades dispostas pela conjuntura atual.
Enxergo com bons olhos a formulação de políticas paralelas à política de paridade internacional e à aplicação de preços de derivados por parte da companhia nas refinarias, como a suavização da carga tributária ou ainda a criação de um fundo de estabilização de preços.
Ainda que insuficientes para solucionar o dilema dos preços de combustíveis no país, retomar o ritmo da venda das refinarias ou a precificação integral das potencialidades da companhia, tais medidas diminuiriam o preço dos combustíveis na ponta sem alterar o valor gerado pela Petrobras em prol de toda a sociedade brasileira.
Em suma, retirariam parte da pressão existente sobre a companhia sem alterar seus fundamentos, o que do ponto de vista do valor da companhia, é sempre interessante.
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Pedro Serra