Gerenciamento de Risco: sobrevivência no investimento a longo prazo.

Para muitos leigos, ao conhecer mais sobre o mercado financeiro, acreditam que a melhor característica que um trader poderia ter seria o desenvolvimento de uma estratégia infalível de operação. Não existe ilusão maior que essa. Primeiro de tudo, não existe estratégia infalível, toda estratégia é falha em algum momento e cabe ao trader identificar propriamente os momentos em que ela tende a ter uma probabilidade mais baixa de dar certo.

Em segundo lugar, o mercado está recheado de histórias onde temos um trader bem-sucedido, aparentemente imbatível, que todo santo dia tira ganhos extraordinários do mercado. Geralmente, a estratégia desses traders só precisa dar errado uma única vez. Normalmente, é o que acontece. Daí surge o termo chamado “quebrar”, onde o operador zera sua conta ou até sai no negativo, precisando colocar mais margem na conta da corretora. Por que isso acontece? Porque existe uma falha grave em seu gerenciamento de risco.

Neste artigo, vamos tratar mais a fundo o assunto para que você possa fazer a coisa mais relevante que podemos fazer no mercado: garantir a sobrevivência no longo prazo.

O melhor adjetivo que podemos utilizar para caracterizar um bom trader é consistente. Todo operador adoraria ser chamado de consistente. Esta característica nasce de forma simples: este tipo de trader, se quiser, está presente no mercado todo pregão.

Em Axiomas de Zurique, um famoso livro que conta a metodologia (podemos chamar até mesmo de gerenciamento de risco) em que banqueiros suíços utilizam para especular nos mercados, mostra logo em seu primeiro axioma a relevância que tem o risco. Um banqueiro, ao ser questionado o que aconteceria caso ele perdesse tudo o que havia investido, ele respondeu:  Bom, então valerei metade do que eu tenho hoje. Traduzindo, 50% do patrimônio dele está investido em algum outro ativo que não sofreria com essa outra quebra.

Trazendo para a prática, se você quiser se tornar um trader de verdade, entenda que a diversificação é essencial para manter sua longevidade no mercado. É uma regra que parte de seu capital esteja protegida em ativos com menor risco, para que você possa tentar ganhos maiores em operações de alto risco. Logo, não ponha todos os ovos na mesma cesta.

Para que fique ainda mais claro, vamos falar nomes técnicos e trabalhar uma carteira hipotética. Você é alguém que desenvolveu um patrimônio médio (nem muito, nem pouco) e resolveu fazer especulações para apimentar a rentabilidade da sua carteira. Naturalmente, estamos falando de alguém com perfil agressivo. Vamos estruturar desta maneira:

Carteira como um todo: 100%

Renda fixa privada/Tesouro direto: 25%

Fundos imobiliários: 25%

Ações: 50% (vamos dividir esta parte mais para frente)

Somando tudo, temos 100%.

Na parte da carteira em que se dedica ações, podemos dividir 50% desse montante (ou 25% do total) para aportar em ativos de qualidade, aquelas ações que apresentam risco baixo/moderado, geralmente com bom histórico de gestão, pagamento de dividendos, lucro e etc.  Os outros 50% do financeiro das ações podemos dividir de novo, colocando 25% em ações de crescimento, que são aquelas que apresentam risco médio/alto e que geralmente estão em franca expansão pelo mercado. Os 25% restantes pode ser dedicado às operações de alto risco, como opções, day trades, swing trades e o que mais estiver alinhado como o perfil.

Como disse anteriormente, essa é apenas uma carteira hipotética. A estrutura de uma carteira em si é totalmente pessoal e vinculada ao perfil de risco do investidor. Existem pessoas mais propensas ao risco, assim como existem pessoas que não vão sair da renda fixa.

É tudo uma questão de controle. A organização financeira e estipulação de valores financeiros adequados dedicados a cada parte da carteira exige disciplina e deve ser seguida rigorosamente se a prioridade do investidor for a sobrevivência no longo prazo.

Podemos fazer esta estrutura até o fim, dividindo até em day trade e swing trade.

Vamos tratar de algo interessante agora que é aplicável no day trade. Vamos supor que seu capital para o Day Trade é de R$ 5.000 após todas essas divisões. Uma forma de gerenciar o seu capital é dividir esse valor pelo número de pregões no mês. Vamos considerar 20 pregões. Com isso, separamos R$ 250 por dia como LIMITE DE PERDAS. Se chegar a esse valor financeiro negativo, é obrigatório parar para ter a chance de voltar no pregão seguinte. Com esse valor, podemos também controlar o risco/recompensa. Se estamos colocando em jogo R$ 250 – não faz sentido buscar menos que isso nas operações. Então, devemos buscar R$ 300, R$ 500, quanto pudermos, mas nunca ter um alvo abaixo de R$ 250.

No swing trade, por exemplo, nós determinamos quantos % estamos dispostos a perder em uma operação específica. Para quem está na Sala Ao Vivo com frequência, já percebeu a quantidade de vezes que informamos que um gráfico está bem “bonito”, mas que o nível de risco atrelado não é favorável ou caro demais. Planeje antes de entrar. Não adianta achar que uma ação vai subir e simplesmente comprar, para depois assisti-la cair 30% e não saber o que fazer, pois não estava traçado qual seria sua estratégia caso isso acontecesse.

Esse tipo de controle permite que você esteja sempre presente no mercado e desenvolva experiência. Conforme vai evoluindo a sua bagagem psicológica e se tornando um veterano nas operações, pode até aumentar a parcela da sua carteira dedicada ao risco, para buscar ganhos verdadeiros que são, muitas vezes, vendidos como sonhos no mercado.

Tudo requer tempo, tudo exige paciência. Um engenheiro se forma no mínimo em 5 anos. Um médico em 6 anos. Um trader não se cria em 6 meses. Por isso, as estatísticas são tão desfavoráveis para quem tenta. Não existe consistência.

Seja consistente, continue aprendendo.

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