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Por que a inflação da Ativa está tão “baixa” para 2022?

Por: Étore Sanchez
04/02/2022
2 min

Por que a inflação da Ativa está tão “baixa” para 2022?

Ao longo desta Palavra do Especialista, desmembramos nossa perspectiva inflacionária para 2022, recém revista para 4,7%, mas que nunca foi tão alta pelo novo dilaceramento do hiato do produto.

Conforme supracitado, revisamos nossa perspectiva o IPCA para 4,9%, vindo de 4,7%. O alívio foi produto de uma melhor perspectiva sobre as bandeiras tarifárias. Não que a precisão sobre a projeção seja grande, mas os sinais de curto prazo acabaram sendo replicados para o final desse ano por hipótese.

De todo modo, seja 4,9% ou o recém projetado 4,7%, trata-se de uma projeção de IPCA bem aquém do projetado por diversos agentes do mercado, vide que o Boletim Focus traz mediana das expectativas dos agentes em 5,38% para 2022.

Olhando a tabela abaixo é possível identificar que o 4,7% têm como fatores de descompressão alguns grupos, são eles: Habitação; Vestuário; Despesas pessoais e Comunicação

Em habitação temos a deflação da já supracitada energia elétrica. Comunicação, por sua vez, tem um alto fator de concorrência e tecnologia inerente, tornando as variações desse grupo muito baixas. Contudo, o esperado para as variações vestuário e despesas pessoais trazem o grande gancho para a segunda etapa da nossa análise, o péssimo rendimento da economia esse ano.

Tanto vestuários quanto despesas pessoais estão muito associados à dinâmica renda e crédito, sendo ótimos exemplos de grupos sensíveis à política monetária.

O avanço da Selic torna o crédito mais caro desincentivando o consumo através da modalidade. Vale pontuar que a restrição de política monetária e o avanço da inadimplência/endividamento também torna o crédito mais seleto pelo lado da oferta. Além disso, a remuneração maior dos mecanismos de popança também torna a utilização da renda no momento de alta de juros menos atraente. Por fim, vale pontuar que ambos os mecanismos mexem não só na situação corrente da atividade, mas também com as expectativas sobre a mesma, elevando o desemprego e piorando o acesso à renda e ao crédito.

Com isso em mente, trazemos à mesa a péssima perspectiva para o PIB esse ano, tema principal da Carta Macro de janeiro. Projetamos que o Brasil cresça esse ano apenas 0,3%, o que frente a um potencial entre 1,5% e 2,0%, significa uma volta ao dilaceramento do hiato do produto, e uma resistência ao avanço dos preços supracitados.

Assim, mesmo com uma nova pressão de alimentos encomendada para 2022 (5,0%) após ter subido quase 25% no último biênio, uma grande inércia refletida em administrados, principalmente planos de saúde e produtos farmacêuticos, a ancora da atividade não permitirá, por tanto, maiores avanços do IPCA.

Diga-se de passagem, grande parte da inércia que se observava no passado associada ao preço de combustíveis por represamento vem sendo corrigida quase que instantaneamente. Mas isso não significa que essas táticas não muito ortodoxas de represamento de reajustes não estejam sendo feitas e contempladas em nossas projeções, como, por exemplo, em ônibus urbano, cuja perspectiva é de avanço de apenas 7,5% esse ano, mesmo com o IPCA subindo mais de 10% no ano passado.

Deste modo concluímos que os preços deverão ceder, ficar em patamar relativamente mais baixo, mas tudo isso pelo desempenho ruim da atividade econômica. Isso sem enaltecer as postergações de investimentos associadas ao período eleitoral, que também mitigam a perspectiva de crescimento.

Étore Sanchez