No Palavra do Especialista de hoje, discorreremos sobre nossa alteração de cenário de juros para 2020 e 2021.
Na última sexta (24/07), conhecemos a o resultado do IPCA-15 de julho, no qual se observou uma surpresa de 26 bps ante a nossa projeção. Apesar de o nosso maior desvio ter sido no grupo transportes (-14 bps), tivemos uma grande dispersão nos desvios justificando grande parte do erro da nova média dos núcleos do BC.
Esperávamos que a média exibisse variação mensal de 0,22% e o observado foi 0,11%, uma surpresa sobremaneira que denota ainda a fraqueza da economia.
Existe a possibilidade de a retomada da economia estar viabilizando a coleta por parte do IBGE, mas apenas corrige nossa avaliação para o devido lugar.
Tal resultado nos fez revisar nossa curva de IPCA de 1,1% para 1,0% ao final de 2020. Por inércia, revisamos nossa projeção de 2021 do IPCA de 3,3% para 3,2%.
Com isso, alteramos também nosso call de Selic para a decisão da reunião de agosto do Copom, que passa de estabilidade para corte de 0,25bps, conduzindo a taxa básica de juros da economia para 2,0%.
Ao nosso ver, a redução residual, como pontuado pelo Copom em seu ultimo comunicado, precisava de uma mudança significativa nos dados, ao passo que uma alteração nesse momento, com meta para 2021, tem o mesmo impacto, para inflação do ano que vem, que uma alteração ao termino do ano.
Assim, a surpresa no IPCA-15, ao nosso ver, tornou inevitável mais um corte da Selic.
Tal patamar da Selic deverá ser mantido até o final de 2021, com início do ciclo de alta apenas no começo de 2022. A justificativa que utilizávamos anteriormente continua sendo válida, uma vez que existe a opção de parar e observar o comportamento da economia mediante tamanho volume de estímulos.
Apenas à título de exemplo para quantificarmos as elasticidades, se o Banco Central corta o juros em 100 bps em agosto, os ganhos inflacionários são da ordem de 23 pontos no IPCA de 2021. Se a autoridade promove o mesmo corte na virada do ano, o ganho para IPCA é de 21 pontos.
Isso se dá, pois estimamos que a política monetária tem pico de potência de 3 a 4 trimestres a frente, o que passa a ser residual depois do 5º trimestre. Assim, a curva acumulada forma um relativo platô entre o 4ºT e o 5ºT.
Temos em vista também que o orçamento de corte é enxuto, patamares mais baixos da Selic flertam cada vez mais com riscos e a interrupção dos cortes adicionais poderia ser considerada estrategicamente prudente.
Assim, reforçamos que o IPCA geral deverá fechar 2020 em 1,0%, acelerando-se apenas em 2021 para 3,2%. Não obstante, sustentamos que a Selic receba um corte de 25 bps na próxima reunião e permaneça estável em 2,0% até o final de 2021. Até a próxima análise!
com a colaboração de Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos.