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2024: O que esperar?

Por: Time Ativa
02/01/2024
5 min

2024: O que esperar?

Muitas analises já foram divulgadas para o ano de 2024, mas sendo um adepto do sistema KISS (“Keep it simple, stupid!”- “Mantenha simples, estúpido!”), onde: “afirma que a maioria dos sistemas funciona melhor se forem mantidos simples em vez de complicados; portanto, a simplicidade deve ser um objetivo chave no projeto, e a complexidade desnecessária deve ser evitada”, centraremos a analise na trajetória inflacionária global até o momento.

Inflação acumulada - 2023

Desde o final de 2022 a inflação vem convergindo “de volta”, para os patamares esperados pelos principais bancos centrais dos países desenvolvidos, algo em torno de 3% a.a.

Ao que tudo indica, 2024 poderá ser o ano do relaxamento monetário sem maiores pressões inflacionárias, pelo menos é o consenso dos analistas até o momento.

Inflação acumulada - 2023

Em relação aos países emergentes, a desaceleração inflacionária também é vista, apenas o patamar de estabilização parece ser levemente mais alto.

É importante destacar a inflação chinesa, pois nunca saberemos se os dados oficiais são fidedignos ou não, mas, em tese, temos de trabalhar com eles.

Desde o fim de 2020, ainda durante a pandemia, a inflação chinesa foi bem mais baixa que a média dos emergentes, sendo que, no fim de 2023, passou a deflação.

Essa observação é muito relevante, dado que, a China segue sendo o maior importador de comodities global, inclusive em petróleo, e sua aparente desaceleração tem um impacto significativo nos seus preços internacionais.

PIB Chinês - 2024

De fato, o PIB Chines vem desacelerado suavemente desde e 2010, após o imenso estímulo dado pelo governo ao setor imobiliário, pós crise financeira do sub-prime americano. Vele ressaltar que, o PIB chines dobrou de tamanho em termos nominais na moeda local, o Remmimbi (¥). Então o decréscimo da taxa de crescimento é, em tese, um caminho natural fruto do crescente aumento da base de comparação ano após ano.

Nos últimos anos, o crescimento da indústria da construção civil, vem, até certo ponto, carregando o crescimento do PIB chines e desde 2021, o setor está em crise.

Os dados de China Fixed Asset Investment (Investimento em ativos fixos na China) medem a mudança nos gastos totais em investimentos de capital não rurais, como fábricas, estradas, redes elétricas e propriedades, vem numa trajetória de crescimento anual, muito similar a do PIB.

Um exercício simples de regressão linear entre China Fixed Asset Investment e o PIB Chinês, mostra que existe uma relação de causalidade não desprezível entre setor de construção civil, pesada ou não.

Essa relação não é novidade para aqueles que acompanham o cenário internacional, mas é também daí, que o Governo Chines deve tentar mudar o cenário de crescimento do PIB no curto prazo.

Tentar relacionar o preço internacional do minério de ferro (IO – Iron Ore) tem como objetivo apenas relacionar o peso da China na demanda global de commodity, poderia ser soja ou outra comodity qualquer.

Em resumo, para os países emergentes, representado pelo G20, a deflação e a desaceleração do PIB que a China vem apresentando, tem impactando os preços internacionais das commodities e consequentemente ajudando muito a convergência inflacionária observada nos países desenvolvidos, como veremos a seguir. Uma melhora do crescimento econômico chines em 2024, tem o potencial de trazer mais dificuldades aos bancos centrais do G7.

2024: Inflação G7 ou EUA

O gráfico abaixo é apenas para estabelecer visualmente a forte correlação, ou peso, da inflação americana com a de todos os países do G7, abrindo espação para análises especificas a respeito da inflação

Inflação americana e do G7

Abaixo apresentamos dados que mostram como as commodities andaram em 2022 e 2023 de forma bem parecida. O Food Price Index é um dado divulgado mensalmente pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

Inflação EUA - 2023
Inflação EUA - 2023

Substituindo os dados os dados de Import Prices_Crude Oil, pelos dados do CPI americano cheio, incluindo comida e energia, o chamado headline, acredito que a percepção de que, o que realmente influenciou a convergência global foram as commodities e consequentemente com a desaceleração chinesa.

Basicamente os índices de inflação, apesar de refletir uma cesta de consumo de uma determinada faixa de renda, eles também acabam se dividindo entre produtos tradables (negociáveis) e nontradable (não negociáveis). O “negociáveis” no caso refletem produtos que podem ser substituíveis por produtos importados e consequentemente os “não negociáveis”, podem ser definidos como serviços. Afinal não podemos substituir nosso corte de cabelo, por exemplo.

Dito isso, tanto o CPI (Consumer Price Index) e PCE (Personal Consumption Expenditures) são apresentados excluindo preços de alimentação e energia, dado sua significativa volatilidade.

Já vimos o peso das commodities na convergência da inflação global, especialmente para os países desenvolvidos, mas agora veremos os serviços de forma segregada.

Inflação americana - 2023

Então, serviços são preços muito mais rígidos que os negociáveis, respondem a renda disponível e quando os preços dos produtos negociáveis sobem, diminui a renda disponível para consumo de serviços e vice-versa, que é o caso atual.

Expectativas inflação - 2023

O FED de Cleveland divulga mensalmente uma expectativa de inflação, algo na linha do que podemos ver no Relatório FOCUS, divulgado pelo Bacen.

Olhando para a média da inflação esperada do FED Cleveland, vemos o objetivo do FOMC, ou seja, 2%. O melhor dos mundos é quando a expectativa está, ou foi, bem aderente a inflação observada, como vimos entre 2010 e 2020.

Então, o resumo seria: existe uma convergência inflacionária nos EUA, talvez não como o esperado ainda, as expectativas seguem mais perto de 3%, que 2%. Até o momento, o efeito de reflação do CPI se deu com base na queda de commodities, é isso aconteceu porque a China desacelerou.

Inflação Brasil

Eu poderia falar sobre a convergência, mas o efeito do preço de energia e commodities em geral vem tenho o mesmo efeito que vimos pelo mundo anteriormente. Então a questão que gostaria de observar é a convergência entre “passado” e “futuro”, da inflação observada nos últimos doze meses e a divulgada pelo FOCUS, a esperada para os próximos doze meses

Expectativas Inflação - 2024

O ano de 2023 foi, de fato, o ano da convergência inflacionaria, como o Bacen esperava, mas que a reflação, até mesmo deflação, dos preços de energia e combustíveis – e seus efeitos secundários – ajudou significativamente, também é um fato.

Temos de ressaltar que, no fim de 2023, a chamada Inflação Implícita, aquela esperada pelo mercado para os próximos doze meses e divulgada pela ANBIMA, diferente dos economistas consultados pelo FOCUS, também convergiu para o patamar de 3,7%/3,8%, a caminho da Meta de 3,5% do Bacen.

DI Futuro - 2024

Da mesma forma, os juros futuros mais líquidos, o mercado de DI Futuro na B3, vem mostrando uma convergência em relação a queda da Selic.

O Focus Copom Nominal, é a queda da Selic/CDI esperada e precificada pelo mercado. A curva laranja, Focus Copom Forward, é o acumulado diário da queda esperada da Selic/CDI pelo FOCUS.

Vale notar que, a curva futura de juros segue bem aderente até o final de 2025, o prêmio adicional em relação a expectativa de mercado, só de 2026 para frente.

Tal convergência do mercado para o FOCUS e consequentemente para a Meta do Bacen, em tese, deve trazer um foco maior para os juros reais, aqueles acima da inflação, que serão pagos pelo Governo aos investidores e poupadores.

A questão fiscal e a relação Dívida Pública/PIB devem ganhar mais espaço nas discussões sobre a provável trajetória dos juros, porque se a inflação está convergindo é porque a curva de queda da Selic/CDI embutida no FOCUS – e no mercado – é a trajetória que leva a convergência. Qualquer alteração mais agressiva na queda da Selic/CDI esperada hoje, pode levar a um aumento das expectativas inflacionárias.

Conclusão

No Brasil e no mundo, a política monetária dos principais bancos centrais foi significativamente ajudada pela queda dos preços da commodities em geral, que teve como principal expectativa e desaceleração da China.

A questão central de 2024, é se a China segue desacelerando, ajustando seu setor de construção, ou reage aos estímulos que o Governo vem implementando?

Ainda acredito que o “consenso é burro”, mas a cada dia a convergência das expectativas converge com mais facilidade, consequência do crescimento da utilização de bancos de dados cada vez maiores e mais acessíveis, sem falar em IA.

As metodologias de previsão estatísticas, hoje são ferramentas muito acessíveis, e os dados são basicamente os mesmos, então expectativas convergindo com mais facilidade e rapidez será um cenário cada vez mais normal.

Por isso, o risco do mercado, a variação abrupta de preço, deverão crescer exponencialmente daqui em diante.

Por Jose Mauricio Dolabella Haddock Lobo

Time Ativa