No dia 08/01/2024, mais um Boletim Focus foi divulgado pelo Banco Central (Bacen) em uma segunda-feira comum, porém, alguns insights importantes puderam ser observados em relação à expectativa de inflação para 2024, especialmente no segundo semestre.
Diversas matérias têm sido veiculadas na mídia tradicional, abordando o El Niño e seus efeitos prejudiciais sobre a safra que será colhida este ano.
Como não sou um produtor de grãos e tampouco possuo um conhecimento aprofundado sobre o processo de plantio e colheita de grãos, meu objetivo é apenas compreender a dinâmica de como as expectativas estão sendo e serão incorporadas por esse evento.
O Bacen utiliza a ideia de desvio padrão, que representa a dispersão dos dados coletados semanalmente que compõem o Boletim Focus. Quanto maior o desvio padrão, mais dispersas estão as expectativas coletadas, enfraquecendo consequentemente o consenso ou a convergência.
Como podemos observar acima, desde o início de dezembro, as expectativas de crescimento para o PIB do Agronegócio em 2024 têm diminuído significativamente, sendo que, principalmente, o desvio padrão tem aumentado consideravelmente, indicando um aumento na “discordância”.
Talvez o sinal mais fraco seja evidenciado pelo gráfico abaixo, uma vez que, no final de 2023, o El Niño também acabou por impactar os preços de produtos que consumimos diariamente, como frutas, legumes, hortaliças, entre outros. Novamente, minha especialidade não é a coleta de preços, e tampouco sou um grande conhecedor da produção regional desse tipo de lavoura.
Entretanto, de fato, o item “Alimentação no domicílio”, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro de 2023, divulgado em 11/01/2024, superou as expectativas, atingindo 1,34%, em comparação com uma mediana de expectativas de 1,09%, uma média de 1,0% e um desvio padrão de 0,25%. Pode ser um evento isolado, possivelmente sim, sendo assim, talvez o dado mais frágil.
Mas também não há como negar que a projeção desse item para todo o ano de 2024 vem progressivamente subindo desde setembro de 2023.
Sendo assim, esse é um dado que pode corroborar, quando observado em conjunto com o PIB do Agronegócio, sinalizando uma mudança de tendência.
Apenas para registrar, é importante ressaltar que os principais clientes institucionais do mercado financeiro, os formadores de opinião, de alguma forma coletam preços correntes de alimentos vendidos em supermercados por todo o país.
Outro dado que pode não se mostrar tão significativo, mas que, no conjunto, pode vir a indicar algo, foi a alteração das expectativas para as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Na primeira semana de 2024, coincidência ou não, observamos mudanças na velocidade de queda da taxa Selic, precisamente após o segundo semestre de 2024, quando, em tese, a safra mais representativa de grãos será colhida.
Retornando à ideia de “desacordo”, nos dados coletados pelo Banco Central (Bacen) na primeira semana de janeiro, para o chamado Horizonte Móvel, que representa a inflação acumulada esperada para os próximos 12 meses – dados não suavizados – houve um aumento que pode ser significativo ou não, no desacordo, ou seja, no desvio padrão dos dados coletados.
Em uma amostra um pouco maior, que abrange os dados coletados durante a pandemia de 2020, a relação entre o desacordo e a trajetória da inflação esperada para os 12 meses seguintes torna-se um pouco mais clara.
Talvez, em um contexto caracterizado por um grande grau de incerteza, como foram os anos de 2020 e 2021, a relação entre a dispersão das expectativas coletadas – o desacordo, representado pelo desvio padrão – possa tornar mais evidente uma tendência crescente ou decrescente nas expectativas futuras.
Quanto às expectativas, ainda é necessário comparar os dados do Boletim Focus com as expectativas de mercado. Estas são formadas diariamente, representadas pela inflação implícita apresentada pela Estrutura a Termo das Taxas de Juros (ETTJ), divulgada diariamente pela ANBIMA.
Como podemos observar, ao longo de todo o primeiro semestre de 2023, a inflação implícita cai de forma acelerada após abril de 2023, quando todas as expectativas para a inflação de 2023 começaram a diminuir, caracterizando a chamada desinflação.
À medida que o desacordo diminui, a expectativa do Focus também diminui, e a inflação implícita age como um “indicador líder”, antecipando o movimento.
Conclusão: ao analisar todos os dados em conjunto, a trajetória da EXPECTATIVA da inflação de 2024 pode ter atingido seu ponto mais baixo no último trimestre de 2023 e pode estar dando sinais de reversão.