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Empresas fazem a lição de casa, mas ambiente é desafiador

Por: Pedro Serra
23/08/2021
2 min

Empresas fazem a lição de casa, mas ambiente é desafiador

Finalmente, chegamos ao final da temporada de resultados das empresas do 2º trimestre de 2021. De modo geral, podemos dizer que os resultados vieram, em sua maioria, em linha com o esperado.

Esse momento na Bolsa é muito importante para os investidores checarem as suas teses de investimentos e ver se o discurso das empresas confere com os números divulgados.

Ao longo do ano, foi possível observar oscilações na Bolsa derivadas de diversas notícias e especulações acerca de questões ligadas à política interna, ao ambiente macroeconômico e corporativo, além das condições e “humor” externos.

Porém, pelo menos quatro vezes ao ano, são os números das empresas e o “call de resultados” que costumam pesar mais no rumo das ações na Bolsa.

O primeiro questionamento que devemos fazer é se os resultados decepcionaram, surpreenderam ou validaram as estimativas de mercado.

Para aqueles que surpreenderam ou decepcionaram, teremos revisões para mais ou para menos nas expectativas futuras, dependendo da natureza e da razão dos números.

Caso o número esteja em linha, a expectativa foi validada, seja ela ruim ou boa. Mesmo assim, o mercado pode penalizar ou premiar as ações, uma vez que, dependendo do caso, alguns investidores já se posicionam tentando antecipar a surpresa ou decepção.

Resultados positivos

Do lado da surpresa, observamos as commodities metálicas e mineração entregando números fortes e acima de estimativas já otimistas. Porém, a questão aqui é se esse movimento é sustentável. Avalio de maneira cautelosa essa questão e acredito que daqui para frente teremos um crescimento menor, mais acomodado.

Além das empresas ligadas ao mercado de mineração, também chamo a atenção para os resultados de Yduqs (YDUQ3), Petrobras (PETR4) e Rede D’Or (RDOR3), que surpreenderam cada qual por seus motivos.

Setor elétrico sente crise hídrica

Do lado negativo, o setor de energia elétrica, salvo exceções, já trouxe nos seus números o início do impacto da crise hídrica, algo que já era esperado, porém em menor proporção do que foi divulgado.

Os próximos trimestres devem continuar nesse ritmo, mas acredito que a maior parte do ajuste nos preços das ações do setor já foi realizado pelo mercado.

Vale destacar o caso da Ultrapar (UGPA3), que chamou bastante a atenção do mercado negativamente.

Os resultados da companhia de distribuição de combustíveis assustaram os investidores, gerando, inclusive, um provável fim do “benefício da dúvida” (fenômeno que ocorre quando o mercado já precifica no valor das ações os benefícios prometidos pela gestão da empresa, antes de sua entrega).

Desta maneira, o mercado só deve precificar qualquer reação de melhora na empresa, após a entrega ou forte indícios de melhora nos seus números.

Em relação aos resultados que vieram em linha, estes também possuem o seu valor, confirmando, na maioria das vezes, as projeções dos analistas e, dependendo do caso, reforçando a continuidade da posição dos gestores naquela empresa.

Na casa onde atuo, a Ativa Investimentos, isso se confirmou na maior parte dos casos, com a confirmação de como deve ser a performance das empresas ao longo do ano.

Além disso, estes resultados também auxiliam na análise do potencial de ganho do Ibovespa que, pela ótica fundamentalista, abaixo de nove vezes o seu Preço Sobre o Lucro Esperado (P/L), que está bem abaixo das doze vezes de média dos últimos três anos.

Com os resultados dessa temporada, sentimos mais confiança nesse “L”, que está no denominador, ou seja, caso o mercado precifique o Ibovespa como fez no passado, uma significativa valorização das ações poderá ser observada.

Acredito que os ruídos vindos de Brasília, como a questão dos Precatórios e a Reforma do Imposto de Renda, que tem suas consequências na questão fiscal do país, atrasam essa valorização das ações e, certamente, a discussão sobre voto impresso e desfile de tanques também não ajudam.

O que nos leva a crer que as empresas e a economia vêm fazendo a sua parte na trajetória de recuperação, mas o reflexo disso no valor de suas ações vem sendo refratado por ruídos internos e externos.

Pedro Serra