Cercados de muita expectativa tanto pela questão operacional, uma vez que seus números são condições essenciais para que o país retome o nível de atividade de outrora, como pela questão financeira, uma vez que, após a pandemia, o mercado se perguntava como ficariam as finanças das empresas do setor elétrico, pode-se dizer que os balanços revelados pelas empresas do segmento têm se mostrado melhores que as expectativas.
Quanto às geradoras, o retorno da demanda e maiores temperaturas médias conferiram às empresas do setor um cenário mais benigno que aquele previsto para o primeiro trimestre após pandemia.
No 3T20, a adequação das mesmas à situação atual no que tange à GSF, menores preços de liquidação de diferenças e a alocação de energia são pontos destacáveis. Para o quarto trimestre, monitoramos ainda a estiagem que atinge especialmente os subsistemas Sul/Sudeste e Centro-Oeste e estimamos que o aumento no consumo seja majorado pela ocorrência do fenômeno La Niña. Desta forma, possivelmente observaremos, por exemplo, um preço de liquidação de energia bem maior, o que deve favorecer estratégias long na curva de sazonalizacão, como as possuídas majoritariamente por AES Tiete e Engie. A ocorrência do fenômeno também é um dos motivos pelo qual as usinas termelétricas devem observar maior despacho. Companhias como a Engie, que possuem tal dispositivo em casa, podem colher frutos positivos das atuais necessidades elétricas do país.
Quanto à distribuição, é inegável que a demanda no 3T20 ainda possuiu caráter majoritariamente residencial. Poucos foram os outliers neste sentido, mas no resultado da Cemig pode se comprovar que o estado de Minas Gerais, importante pólo industrial nacional, mostrou evolução em seu consumo industrial de forma diferente do observado em outras distribuidoras. Destacamos também a resiliência da demanda rural em Energisa, suportada pelo Centro-Oeste e pelo ímpeto das atividades pecuárias.
No que tange à comercialização de energia, não podemos deixar de notar a diferença entre os consumos registrados pelas distribuidoras no ambiente regulado, majoritariamente em queda, e os livres, em franca ascensão em todo país. Neste sentido, destacamos os resultados de Equatorial, que conseguiu entregar tanto crescimento no mercado livre como no regulado.
Destacamos ainda que, se no ponto operacional, o resultado das distribuidoras foi mais forte que o esperado, no campo gerencial ainda prevalece um considerável hiato entre os níveis de inadimplência, arrecadação, perdas totais sobre energia injetada e perdas não técnicas sobre energia de baixa tensão apresentados e os níveis ótimos, tal como os máximos regulados pela ANEEL.
Neste sentido, esperamos ver uma forte movimentação das distribuidoras no combate à tais ineficiências, o que nos enseja que as oportunidades neste setor ainda existem. Ainda quanto à distribuição, acompanhamos as movimentações referentes à privatização de algumas companhias, como a CEB, cujo desafio deve ocorrer ao término de novembro e chamar a atenção dos demais agentes do segmento.
Em transmissão, destacamos a resiliência dos resultados entregues por Taesa e Transmissão Paulista. Tais empresas, que já haviam demonstrado no segundo trimestre que a crise passou longe de seus resultados, reforçaram esta visão no último release apresentado no 3T20 e seguem despontando como excelentes opções para investidores que buscam uma estratégia que contemple o pagamento de proventos.
Adicionamos, ainda, que o leilão de lotes de transmissão previsto para dezembro possuirá regras, como a necessidade de se ficar com o lote adquirido até o término de sua construção, que evitam o bid por players sem know-how do setor. O fato é benéfico tanto para as transmissoras líderes atualmente, como os grupos de energia que já possuem alguma operação no setor e desejam ampliar sua fatia neste, que é o mais regulado dos setores.
Em suma, estamos animados com as perspectivas do setor. Mesmo sabendo da existência de complicações, como as citadas acima, e nas quais destacamos as condições meteorológicas em geração e o nível de perdas em distribuição, o balanço das companhias do setor elétrico no 3T20 revelou que o pior já passou e que, independente do setor de atuação, não falta evolução e busca por novos projetos, sobretudo na área renovável, onde o Brasil possui na geração eólica um expoente mundial.
Não obstante, diante das transformações que as companhias tiveram que observar e se habituar neste ano, aguardamos ainda as definições à nível regulatório que ocorrerão à curto/médio prazo, como: