O trimestre deflacionário de vestuários: como o setor foi impactado pela pandemia
No Palavra do Especialista de hoje, exporemos o atual desempenho do setor de vestuários na pandemia, principalmente no que tocam nos preços, uma vez que esse é o equilíbrio entre a oferta e a demanda.
Como sabemos, a Covid-19 nos trouxe um choque importante de demanda. Ao longo da pandemia, grande parte dos estabelecimentos tiveram suas atividades interrompidas por conta da quarentena. Consequentemente, isso impactou a renda, emprego e, principalmente, a confiança.
Para manter ao menos parte da receita, essas empresas tiveram que apostar mais fortemente no e-commerce. Assim, muitas companhias implantaram soluções digitais e passarem a vender prioritariamente pela internet. Contudo, diferentemente do setor de eletroeletrônicos, as roupas são menos “commoditizadas”, sendo fundamental para parte da demanda a adequação física do produto.
Este grupo representa 4,52% da cesta de consumo do IPCA, sendo chave no entendimento do comportamento estrutural da inflação e os efeitos que a pandemia nos impôs, até mesmo porque compõe todos os núcleos de inflação.
No gráfico abaixo nota-se que Vestuários possuem uma sazonalidade muito bem desenhada ao longo do ano. Janeiro e fevereiro mostram quedas dos preços com as liquidações das festas do ano anterior, somada à troca de coleção, que ganha ímpeto no decorrer do 2º trimestre, e volta à deflação com a troca de julho. Depois disso, retoma a alta no final do 3º trimestre, fechando o ano impulsionado pelas festas.
Entretanto, no segundo trimestre de 2020, em decorrência do Covid, podemos observar um movimento completamente contrassazonal do agrupamento, uma vez que no período normalmente de alta tivemos uma deflação.
Tal comportamento denota que a pressão observada em eletrodomésticos, em decorrência do câmbio, mas, principalmente, da substituição pelo e-commerce, com notória mudança de perfil de consumo, não afetou vestuários.
O grupo tema desse artigo, que também sofreu com a pressão de câmbio, deveria participar da alteração de consumo de serviços para bens, mas, ao que tudo indica, devido à baixa sensibilidade ao e-commerce, sofreu em demasia.
Desse modo, avaliamos que, no montante total, vestuários teve um trimestre perdido pela crise econômica provocada pela Covid-19 e esperamos uma queda de -2,1% para o grupo no ano.
Assim, reforçamos que o IPCA geral deverá fechar 2020 em 1,0%, acelerando-se apenas em 2021 para 3,3%. Até a próxima análise!
com a colaboração de Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos.
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Étore Sanchez