CBIOs: dúvidas demais para o investidor
Ainda que não hajam questionamentos quanto à positividade da intenção do governo em formular, dentro do Programa RenovaBio, a necessidade da compra de créditos de descarbonização (CBIOs) por parte das distribuidoras de combustíveis em atuação no país, a verdade é que a operacionalização da questão tem trazido uma série de dúvidas não apenas para as empresas envolvidas.
Os investidores, que no 3T20 não foram informados pelas companhias a respeito da quantidade já adquirida por cada uma, também se ressabiam quanto à possibilidade do impasse vir a afetar os preços de combustíveis num futuro não muito distante. Diante do aumento de preços dos créditos, não será surpresa se as distribuidoras vierem a repassar este dispêndio extra ao consumidor final.
Para iniciarmos, não é possível culpar somente as empresas, que para se defenderem, optaram por não divulgar a quantidade comprada, por esta situação. Primeiramente, há de se relevar o fator tempo: o ambiente para compra dos CBIOs foi disponibilizado apenas em abril, sendo que a primeira troca ocorreu em junho e o terceiro trimestre fora o primeiro em que as distribuidoras vieram a público demonstrar o quanto já haviam gasto na aquisição de créditos de compensação.
Ademais, o mercado de balcão de CBIOs na B3 vem sendo alvo de intensa volatilidade de preços e carente de regulação e enforcement necessários, fornece condições muito mais válidas ao emissor de CBIOs que ao comprador. Aos emissores, fica facultado o período de disponibilização dos créditos, o que é um dos responsáveis por causar este desarranjo nos mecanismos de oferta e demanda, que certamente penderá desproporcionalmente para um aumento do segundo termo com o fato das distribuidoras necessitaram comprar mais de cinco dos quatorze milhões de créditos referentes à meta de 2019+2020 até o fim do presente ano.
BR Distribuidora
De nossa cobertura, a companhia que mais proveu informações a respeito da questão foi BR Distribuidora, justamente nossa única recomendação de compra no setor. A companhia anunciou uma provisão de R$ 111 milhões, o equivalente a 55% de todo montante provisionado (R$ 202 MM) por ela, Cosan e Ultrapar ao longo do 3T20. Segundo Br, sua provisão seria suficiente para cobrir, levando em consideração o valor médio de mercado dos CBIOs adquiridos, 75% da sua meta de 4,04 MM de CBIOs ao fim deste ano.
Ultrapar
Para Ultrapar, que gere a Ipiranga, enxergamos uma situação mais drástica. A companhia provisionou valores por volta de R$ 65 MM, o que corresponde a menos da metade dos títulos que Ipiranga terá que adquirir para atingir sua meta de 2,88 milhões de créditos de descarbonização.
Cosan
Já Cosan relatou um provisionamento de R$ 25 MM referente à compra de CBIOs, o que também nos soa insuficiente para evitar a corrida de fim de ano ao mercado para regularização de sua situação, visto que as três majors nacional concentram mais de 2/3 da necessidade de compra de créditos de descarbonização para 2020.
Lembramos ainda que a penalidade aplicada ao não cumprimento será proporcional à quantidade de créditos faltantes. Ademais, a quantidade faltante será incorporada a meta do próximo ano e, poderá até mesmo, ser aplicada a suspensão temporária daqueles distribuidores que não atingirem aos requisitos do programa.
Acreditamos assim, que, por enquanto, os problemas para o discorrimento natural do programa são múltiplos. Há dúvidas quanto à:
- disponibilidade dos CBIOs, uma vez que a disposição referente à comercialização dos créditos fica a mercê dos emissores;
- existência de tempo hábil para execução das metas individuais, visto que o volume transacionado ainda é oscilante;
- necessidade de formulação de um mecanismo que vise a correção, normalização e/ou adequação dos preços atuais, visto a existência de um desarranjo em favor aos ofertantes de CBIOs;
- falta de clareza quanto às formas de compensação adicionais, como a geração de energia sustentável (como a solar) por parte dos membros da cadeia de downstream. Neste sentido, lembramos o movimento recente realizado por BR Distribuidora ao adquirir participação da Taurus, empresa comercializadora de energia no mercado livre e que possui parceria com uma empresa que realiza a venda e locação de sistemas fotovoltaicos. Além da compra de CBIOs, poderia existir a regulamentação de uma forma de compensação que incluísse a geração sustentável de energia por parte dos postos, o que incentivaria ainda mais a entrada destes no mercado de geração de energia sustentável.
Desta forma, acreditamos que, permanecendo as assimetrias atuais que rondam a questão, teremos no quarto trimestre de 2020 um impacto considerável no balanço das companhias do setor de distribuição de combustíveis decorrente da compra de CBIOs, que ocorrerão em grande quantidade ao longo de dezembro.
Reafirmamos nosso posicionamento favorável ao case de BR Distribuidora, que das empresas do setor na Bolsa, nos parece ser a que menos sofrerá com a necessidade de aquisição dos créditos neste fim de ano, bem como a companhia que mais se movimenta para mitigar este risco no futuro. Até a próxima!
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Ilan Arbetman