Produção de commodities: até onde vai o preço do minério de ferro?
O Brasil é referência mundial na produção e exportação de commodities, em especial de minério de ferro. Desta maneira, é interessante que o investidor se mantenha atualizado sobre esse mercado para poder aproveitar as oportunidades oferecidas pelas empresas do setor listadas na B3.
Neste texto, traço um breve panorama sobre a oferta e a demanda pelo minério no mundo, além de explicar como os desentendimentos diplomáticos entre China e Austrália impactam o segmento.
Para compreender o atual cenário do mercado de mineração é necessário lembrar que a China, principal importador da commodity no mundo, tem estimulado gastos com infraestrutura, buscando aquecer sua economia e mitigar os efeitos negativos causados pela pandemia de Covid-19.
Esse movimento tem levado as siderúrgicas chinesas a registrarem recordes sucessivos de produção, chegando à marca de cerca de 375 milhões de toneladas de aço produzidas entre janeiro e abril de 2021, aumento de 16% na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China.
Em contrapartida, a oferta de minério de ferro sofreu grandes restrições nos últimos anos, em decorrência dos problemas ocasionados pelo rompimento das barragens de Fundão e Santarém, no município mineiro de Mariana, e do Córrego do Feijão, na cidade de Brumadinho, todas elas pertencentes à Vale (VALE3), a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo.
Fatores climáticos sazonais do início do ano também contribuíram para uma oferta mais limitada no período.
O ritmo acelerado da produção siderúrgica no país asiático, combinado à contenção da oferta de minério conduziu o preço da commodity a patamares próximos a US$180/t no primeiro trimestre deste ano, sem relevantes impactos na margem das siderúrgicas.
Problemas diplomáticos e o impacto na mineração
Enquanto problemas internos impactaram na oferta brasileira do minério, China e Austrália protagonizaram enfrentamentos diplomáticos ao longo de 2020, com reflexos diretos na oferta da commodity para o país asiático.
Em 2015, as duas nações assinaram um acordo de livre comércio e sua relação era harmoniosa até o começo da pandemia.
A partir do início do ano passado, no entanto, a Austrália tem tratado a China com desconfiança, demandando uma investigação mais detalhada sobre a origem do novo coronavírus e criando barreiras para a entrada do 5G da gigante chinesa Huawei. Como retaliação, a China tem dificultado a importação de carvão e cevada da Austrália.
Levando em conta esse cenário, existem temores que o país asiático crie dificuldades para a importação do minério australiano, que responde por 60% de todo o minério consumido na China, fomentando assim também a volatilidade na cotação da commodity nos portos chineses.
A relação diplomática estremecida entre os dois países voltou aos holofotes neste mês. Em 2013, o presidente chinês Xi Jinping lançou um plano ambicioso chamado Belt and Road Initiative (BRI), também conhecido como “Nova Rota da Seda”, que visa não só melhorar a logística entre Ásia, Europa e África, mas também conectar a China a diversas outras regiões em desenvolvimento do globo.
Em 2018, como parte deste programa, a China firmou um acordo para investimentos em infraestrutura no estado australiano de Victoria, onde está localizado o maior porto de contêineres do país.
Entretanto, o papel não muito claro de Victoria no plano chinês e o fato de que um acordo deste porte ter sido firmado com o governo local e não com o federal levantaram suspeitas quanto às intenções dos chineses na região. Pressionado pelo governo central, o primeiro-ministro do estado de Victoria recuou e desistiu do acordo. Como resposta, a China suspendeu o diálogo econômico com o país, fazendo o minério disparar acima de US$200/t pela primeira vez na história.
Futuro estável, porém, preço ainda alto
Resumindo, acredito que o preço da commodity deva se estabilizar em patamares ainda altos, mas menores que US$ 200/t.
A produção de aço das siderúrgicas chinesas deve se deparar com maiores esforços das autoridades do país a fim de diminuir a emissão de gases poluentes na região, favorecendo o uso de minério de qualidade mais elevada e fomentando a utilização de sucata como matéria prima por meio da produção em fornos elétricos.
Além disso, a demanda na China resultante do estímulo à infraestrutura pode começar a diminuir a partir do segundo semestre deste ano, à medida que os projetos de construção sejam concluídos.
A combinação entre o arrefecimento da demanda e a expectativa de um gradual aumento na produção de minério, apoiada pelo guidance de 400 Mtpa para 2022 da Vale, nos leva a crer em um cenário mais balanceado no futuro próximo.
Para o investidor brasileiro que me questiona sobre esse mercado, digo que tenho uma visão um pouco mais cautelosa, depois da forte performance verificada até aqui, mas ainda estamos otimistas em relação às ações da Vale, dado a forte geração de caixa que deverá permanecer por um período longo.
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Pedro Serra