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Revisão de cenários: o que esperamos para 2020 e 2021 - Blog

Written by Étore Sanchez | Sep 30, 2020 6:39:21 PM

No Palavra do Especialista de hoje, discorreremos sobre a nossa atual projeção para inflação e câmbio em 2020, além disso, atualizaremos nossa perspectiva de crescimento para 2021.

Na última quarta (23/09), conhecemos a o resultado do IPCA-15 de setembro, que nos surpreendeu em 5bps, ao exibir alta de 0,45% frente a nossa expectativa de 0,40%.

Alimentos em alta

Parte relevante dessa alteração foi atribuída ao desvio em alimentação no domicílio, que se elevou em 11 bps desde a última revisão. Tal alteração se deu por surpresas dentro do subgrupo, principalmente no tocante ao preço do arroz, mas também pela dinâmica recente dos preços. Ademais, com a surpresa altista também apresentada em passagem aérea, nossa projeção de setembro avançou de 0,33% para 0,58%.

Ainda sobre alimentos, avaliávamos anteriormente que o grupo alimentação traria uma devolução do choque ainda este ano, contudo, reduzimos tal premissa e estimamos agora que a devolução se dará em grande parte somente no próximo ano.

A premissa de que o choque vivido por alimentos é temporário permanece, ficando apenas a cargo do timing da devolução da alta a nossa alteração.

Assim, revisamos nossa projeção para o IPCA de 2020 de 1,1% para 1,8%. Por conseguinte, mediante a nova hipótese de normalização dos preços no próximo ano, reduzimos nossa projeção para a inflação de 2021 de 3,1% para 2,7%.

Nossas expectativas quanto à Selic

Vale mencionar que, mesmo prevendo uma inflação mais pressionada em 2020, não alteramos o nosso call de Selic, pois, como já exposto, avaliamos que as revisões estão associadas a preços de alimentos, e como explicado acima, para nós, trata-se de um choque temporário, o que deve trazer alívio em 2021.

Assim, o atual patamar da Selic (2,0% a.a.) deverá ser mantido até o final de 2021, com início do ciclo de alta apenas no começo de 2022.

Efeito Renda Brasil e Renda Cidadã

Adiante, os eventos associados ao novo programa social do governo tiveram desdobramentos maiores do que o próprio impacto fiscal. Entendemos que o Renda Cidadã, anunciado pelo Governo, terá um efeito negativo sobre o crescimento econômico e câmbio. Sem entrar no mérito social, acreditamos que o programa eleva os gastos públicos e que, no momento, não há espaço orçamentário para tal medida.

Quando pensamos em trajetória de gastos, usar um limitador de precatórios pode ser insustentável no médio e longo prazo. Vale salientar que, para o curtíssimo prazo, a medida com precatórios representa um crime fiscal, que descumpre a LRF, e já está alcunhado de “pedalada cidadã”, conforme destacado em matérias. Em outras palavras, se pudesse ser executado, o que não é o caso, seria insustentável.

Deste modo, o programa em si, que pode eventualmente ser revertido no futuro, acaba não sendo a única contribuição negativa. O Renda Brasil gerou dano de credibilidade frente à agenda liberal que era um dos ativos do governo. Questionamentos sobre a diretriz econômica do Brasil foram suscitados.

Nossa revisão para PIB, dólar e inflação

O ambiente de incerteza sobre a agenda mitiga a intenção de investimento e, por consequência, afeta o PIB. Por esse motivo, revisamos nossa projeção de PIB, apesar de manter a perspectiva em -5,5% em 2020, reduzimos a estimativa, de 3,5% para 2,9% em 2021.

Como no câmbio existe, além de um forte componente de expectativas, um fator associado à confiança, que acaba sendo refletido em menor perspectiva sobre o fluxo, revisamos nosso dólar de final de ano de R$ 4,70 / US$ para R$ 5,20 / US$, com apreciação para R$ 5,00 / US$ (ante R$ 4,50 / US$) ao término de 2021.

Como o coeficiente de pass-through para livres ex-alimentos está muito deprimido, em decorrência do dilacerado hiato do produto, não alteramos nossa perspectiva para inflação exposta anteriormente no tocante à essa transmissão.

Fora isso, a revisão baixista feita no PIB de 2021 mitigou os efeitos do pass-through de monitorados (combustíveis) após a elevação do câmbio médio para o ano que vem, que será 10% mais depreciado, não ensejando assim mudanças na inflação como um todo.

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