Por que investir na poupança já não é mais uma boa ideia?
Investir na poupança deixou de ser interessante para milhões de brasileiros. Em 2019, a caderneta registrou a maior retirada de recursos para o mês de julho dos últimos 4 anos. Isso porque os saques superaram os depósitos em R$ 1,6 bilhão.
Os levantamentos do Banco Central não deixam dúvidas de que há um movimento de migração de capital, da poupança para outros investimentos. Mas por que tanta gente vem concluindo que não vale a pena investir na poupança?
A resposta para essa pergunta pode estar no fato de que o cálculo da poupança não favorece o lucro. Como veremos adiante, a relação risco e retorno não fecha mais, o que acabou levando esse produto a perder constantemente para a inflação.
Assim, para muitas pessoas, a poupança deixa de ser interessante tanto pelo seu modelo de rentabilização, como também pela chegada de outros produtos mais lucrativos e que também oferecem o mesmo nível de liquidez e segurança. Continue a leitura e entenda porque não vale a pena investir na poupança!
Índice
- Por que os brasileiros são tão apegados à poupança?
- Como a poupança funciona?
- Qual a rentabilidade da poupança?
- Quais são as vantagens e desvantagens da caderneta de poupança?
- É realmente seguro investir na poupança?
- Quais os mitos e verdades sobre a poupança?
- Inflação: o maior motivo para não investir na poupança
- Quais opções de investimento unem segurança e rentabilidade?
- Como escolher outro tipo de investimento?
Por que os brasileiros são tão apegados à poupança?
Mesmo com baixos resultados, o brasileiro se mantém atrelado à poupança por medo de correr riscos. De acordo com uma pesquisa do SPC Brasil, quase 70% dos que aplicam na caderneta de poupança têm o objetivo de evitar perdas.
Entretanto, há dois erros nessa análise. O primeiro é que, como vimos acima, é perfeitamente possível desperdiçar dinheiro nesse investimento (pela corrosão da inflação). O segundo é que a poupança não tem risco zero em caso de falência do banco. Para entender melhor, é preciso ter em mente que existem 5 tipos de risco. São eles:
- risco de mercado — risco da aplicação render abaixo do esperado;
- risco de liquidez — risco de não conseguir resgatar o dinheiro quando necessário;
- risco de crédito — é o chamado “calote” (risco de não receber o capital em caso de falência da instituição);
- risco operacional — risco de haver falhas no sistema (por exemplo, durante o processo de operação);
- risco legal — risco de investir com agentes não autorizados.
Ou seja, embora o investimento na poupança ofereça poucos riscos de ordem legal, operacional e de liquidez, ao menos 2 riscos podem ser observados. Um deles é o de mercado (ao contrário do que muitos pensam) e o outro é o de crédito.
Sim, existe a chance de se ter problemas em caso de falência do banco. O que confere o baixo risco à poupança é a existência do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Essa entidade assegura o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF e por banco em caso de colapso da instituição.
Ou seja, se um investidor tiver R$ 750 mil aportados em caderneta de poupança, adivinha o que vai acontecer com os outros R$ 500 mil se o banco quebrar? Isso mesmo, o excedente não será recuperado.
Como a poupança funciona?
Para boa parte dos brasileiros acreditava que a caderneta de poupança era sinônimo de investimento. Desde a sua criação, em 1861, ela representou o único produto de investimento acessível à população em geral, principalmente para aqueles com menos recursos.
Anos depois, mesmo diante de tantas opções e novos esforços por parte do governo em ampliar o leque de produtos, a poupança segue como uma forte alternativa na mente de muitas pessoas. Uma prova dessa afirmação é o recorde de aplicações alcançado pelo poupança em 2020, que segundo o banco central atingiu a marca dos 166,3 bilhões de reais.
Esse fato só demonstra a necessidade de reforçar as ações de disseminação da educação financeira e o acesso à informação relevante sobre finanças e investimentos. Para compreender melhor como este produto funciona é preciso entender o que significa o aniversário da poupança.
Quando uma aplicação é feita os juros, ou a rentabilidade esperada, será “adicionada” ao valor aportado apenas ao final do período de 30 dias. Para clarear um pouco mais, imagina que você aplicou 100 reais na poupança no 10° dia de um mês qualquer. Esse dia 10º será o “aniversário da poupança”, ou seja, o dia em que os juros serão depositados em sua conta poupança passados os 30 dias.
Essa mesma regra se aplica a cada novo depósito realizado. Assim, seguindo o exemplo anterior, se você aplica mais 100 reais no dia 15 do mesmo mês, a sua conta passará a ter duas datas de aniversário, a primeira no dia 10 e a segunda no dia 15.
Qual a rentabilidade da poupança?
A rentabilidade da poupança funciona da seguinte maneira. Desde 2012, a rentabilidade da caderneta de poupança está atrelada ao desempenho da Taxa Selic. Dessa forma, quando a Selic está acima de 8,5% a.a., a poupança rende 0,5% a.m. (6,17% a.a.) + variação da TR (taxa referencial – quase sempre próxima a zero).
Por outro lado, quando a Selic está em 8,5% a.a. ou menos, a poupança rende 70% da Selic + TR. O resultado disso é um baixo rendimento real, ou até mesmo negativo. Em 2015, por exemplo, com inflação a 10,67%, quem investiu na caderneta perdeu dinheiro (-2,28% de rentabilidade no ano).
Para reforçar ainda mais o seu entendimento sobre a rentabilidade da poupança, quando este artigo foi escrito (Agosto de 2021), o COPOM (Comitê de Política Monetária) definiu a taxa selic em 5,25%, ou seja, hoje (Agosto de 2021) a poupança rende 70% da Selic + TR (Taxa Referencial), o que representa 3,68% ao ano ou 0,30% ao mês. O que também demonstra um retorno muito abaixo da inflação atual.
Quais são as vantagens e desvantagens da caderneta de poupança?
Em resumo, é possível identificar os seguintes prós e contras na poupança.
Prós
- Liquidez imediata.
- Ausência de impostos (IOF e Imposto de Renda).
- Baixo risco (baixo, mas não inexistente).
- Simplicidade da operação.
Contras
- Retorno próximo de zero ou, às vezes, até negativo.
- Resultados pequenos e apenas visíveis no longo prazo.
- Retorno próximo de zero para montantes pequenos.
É realmente seguro investir na poupança?
Diante do exposto no item anterior sobre os prós e contras, é perfeitamente possível questionarmos a poupança como uma opção de investimento viável. Afinal, é realmente seguro investir na poupança?
Para respondermos essa pergunta é necessário retomar o conceito sobre investimentos. A finalidade de um investimento é justamente escolher não consumir o capital disponível agora, tendo em vista um retorno financeiro maior no futuro.
Ao poupar e investir estamos, conscientemente, deixando de usufruir o presente pela expectativa de melhores retornos futuros. Assim, com uma rentabilidade incapaz de superar os efeitos corrosivos da inflação, podemos concluir que a poupança no atual momento não é o local mais indicado para aqueles que desejam proteger o patrimônio conquistado com muito trabalho ao longo dos anos.
Quais os mitos e verdades sobre a poupança?
Entre os maiores mitos sobre a poupança está a sua incomparável segurança e simplicidade. Como vimos no tópico anterior, o argumento sobre a segurança cai por terra quando adicionados os efeitos da inflação na avaliação deste produto.
De igual modo, a garantia pelo FGC é limitada até 250 mil por CPF, o que significa que qualquer capital com valores superiores a este estão sujeitos a riscos. Portanto, avalie bem as opções de investimentos disponíveis, pois as máximas como “a poupança é investimento totalmente seguro” podem não representar a realidade.
Inflação: o maior motivo para não investir na poupança
Poupança: vale a pena investir? Bom, em partes, você já tem a resposta. A questão é que a caderneta de poupança tem dois adversários. O primeiro é sua própria regra de retorno, que sempre acarreta rendimento baixo.
Como afirmamos atualmente, com a Selic em 5,25% a.a., a poupança rende apenas 70% da Selic + TR, o que seria algo em torno de 3,68% a.a. O mais conservador dos Fundos de Investimento entrega um retorno maior.
O segundo é a inflação, já que o produto da fórmula acima é o chamado “resultado nominal”. É preciso considerar ainda a flutuação de preços que, como você viu acima, corrói o resultado do investimento.
Em um cenário de inflação a 3,5% ao ano, por exemplo, teríamos retorno líquido um pouco inferior a 0,7% (resultado real). É isso que acontece quase todos os anos, o que explica a razão pela qual nenhum investidor com um mínimo de sofisticação tem sequer 1 centavo na poupança.
Quais opções de investimento unem segurança e rentabilidade?
Muitas pessoas que investem em poupança não sabem que as vantagens da caderneta estão presentes também em outras aplicações. O CDB e a LCI/LCA, por exemplo, também são protegidos pelo FGC.
Além disso, o LCI/LCA são investimentos isentos de IR. Com todas essas questões, você ainda tem dúvidas se vale a pena investir na poupança? Veja a seguir outras opções de investimentos seguras e com bom potencial de rendimento.
Certificados de Depósito Bancário (CDB)
O CDB, as Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio e a caderneta de poupança são exemplos de investimentos em renda fixa. Nessa categoria, a aplicação funciona como uma espécie de “empréstimo” do investidor a uma instituição financeira ou ao próprio governo (no caso do Tesouro Direto).
Ou seja, você capitaliza essas instituições para que elas possam viabilizar as próprias atividades. No caso do governo, os valores são utilizados para destravar investimentos em infraestrutura, por exemplo.
Já os bancos conseguem “reemprestar” esses recursos em certas operações, como as de crédito pessoal. O CDB é um título privado, emitido pelas instituições financeiras, com a finalidade acima mencionada. Você “empresta” dinheiro aos bancos e, em troca, recebe juros ao final do prazo pré-acordado.
Tipos de CDB
Nesse sentido, existem 3 tipos de CDB:
- prefixado — nesse caso, o investidor já sabe no ato da compra do título qual será seu rendimento bruto. Isso porque a taxa será mantida, independentemente da flutuação de juros durante o período (exemplo: CDB prefixado a 9% a.a.);
- pós-fixado — remunera um determinado percentual do CDI (índice que costuma ser idêntico à Selic). Por exemplo, com Selic a 5,5% a.a., um banco que tenha CDB pagando 120% do CDI rende em torno de 6,6% a.a. CDBs de bancos médios costumam pagar acima de 100% do CDI;
- híbrido — paga percentual prefixado + variação da inflação (medida pelo IPCA).
Existem CDBs com liquidez diária, o que é excelente para a diversificação de investimentos (estratégia fundamental para diluir riscos e aumentar a rentabilidade média da carteira). Ou seja, é possível ter a mesma segurança da poupança, com retornos mais atraentes.
O CDB está sujeito ao pagamento de IOF apenas se houver resgate em menos de 30 dias. Já o IR é obrigatório, observando a seguinte tabela regressiva:
- 22,5% — até 6 meses;
- 20% — entre 6 meses e 1 ano;
- 17,5% — entre 1 e 2 anos;
- 15% — após 2 anos.
O rendimento da poupança é tão baixo que, mesmo com a incidência do IR, não é difícil encontrar CDBs com rentabilidade real muito acima da caderneta. É por isso que muitos brasileiros estão deixando de investir na poupança.
Letras de Crédito (LCI e LCA)
Esse tipo de investimento é muito semelhante ao CDB, com a diferença que as LCIs/LCAs são emitidas para financiar especificamente a atividade imobiliária e o agronegócio. Outra distinção é que as LCIs/LCA têm isenção total de IR.
Quem investe na poupança está protegido pelo FGC, e o mesmo pode ser dito em relação à LCI/LCA. No entanto, o rendimento médio das Letras de Crédito geralmente é superior à caderneta.
Existem LCI/LCA pré e pós-fixadas, nos mesmos moldes do CDB. Com uma rápida pesquisa, é possível conferir uma extensa lista de títulos e suas respectivas remunerações.
Tesouro Direto
O Tesouro Direto é um programa de emissão de títulos públicos. Seus ativos têm liquidez diária, já que o próprio Tesouro Nacional assegura a recompra dos papéis. Existem, basicamente, 3 tipos de títulos do Tesouro:
- prefixado — funciona exatamente como o CDB prefixado. Nele, é possível pagar juros semestrais ou no ato do resgate;
- pós-fixado — Tesouro Selic que segue a variação da taxa Selic (ideal para períodos de alta na taxa de juros);
- híbrido — Tesouro IPCA, que paga parte da remuneração prefixada + variação da inflação (medida pelo IPCA). Essas aplicações são mais indicadas para longo prazo, sendo as únicas que asseguram rentabilidade real (acima da inflação).
Vale lembrar que, em 2018, o Tesouro IPCA+ 2035 (NTN-B Principal) rendeu 14,71% no ano, enquanto a poupança rendeu apenas 4,62%.
Como escolher outro tipo de investimento?
Diante de opções mais atrativas de renda fixa e variável, não é de se espantar que a poupança esteja saindo do radar do brasileiro. Seja em períodos de alta da Selic (que sugerem aplicações em CDBs e LCIs/LCAs pós-fixadas) ou de queda das taxas de juros (que favorecem aplicações prefixadas), existe um oceano de alternativas tão seguras quanto a poupança, mas com resultados mais robustos.
A chave para o sucesso é, portanto, criar uma carteira diversificada. Além disso, contar com a parceria de uma corretora de investimentos para ajudar você a enxergar as melhores oportunidades do mercado, de acordo com seu perfil de risco.
Até aqui podemos observar que, apesar de existirem muitas pessoas que acreditam que a poupança vale a pena investir, aos poucos já observamos um movimento no sentido oposto, onde a poupança começa a ceder o espaço para outros produtos de investimentos mais vantajosos e seguros.
É importante notar o papel crucial que a informação de qualidade desempenha nas decisões de investimentos tomadas, podendo representar a diferença entre o lucro ou o prejuízo, e entre a preservação do capital construído com tanto esforço ou a sua corrosão contínua pelos efeitos da inflação. Portanto, esteja atento e busque sempre fortalecer os seus conhecimentos sobre o mercado financeiro.
O que achou do artigo? Já consegue entender por que investir na poupança ficou pior diante do cenário atual? Então, aproveite e compartilhe este conteúdo em suas redes sociais para que mais pessoas tenham acesso a informação relevante para as suas decisões de investimento.
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