Temporada de balanços: resistindo a períodos turbulentos
A temporada de balanços do último trimestre da Bolsa foi marcada pelo bom desempenho e pela recuperação surpreendente que muitas empresas vêm apresentando nos últimos resultados.
Mesmo assim, aparentemente, o mercado não tem conseguido precificar esse reaquecimento, resultando assim em sucessivas quedas nas cotações da Bolsa ao longo das últimas semanas.
A instabilidade política doméstica, sem dúvida, tem sido um fator preponderante para a cautela do investidor neste momento, entretanto também vale o questionamento sobre quais os tipos de oportunidade que a Bolsa brasileira tem oferecido ao investidor, além de uma análise mais aprofundada do período que vivemos.
A influência dos fatores macroeconômicos no mercado
Apesar dos temores acerca do avanço da variante Delta da Covid-19, as expectativas de reaquecimento da economia global se mostram cada vez mais realistas, uma vez que dirigentes do Federal Reserve começam a adotar um discurso cada vez mais hawkish, defendendo o início da retirada dos estímulos à política monetária americana e, como próximo passo, a elevação da taxa de juros no país.
Tais medidas nos dão um vislumbre de que o Banco Central Americano já consegue visualizar uma economia mais autossuficiente, que consegue “andar com suas próprias pernas”.
Por outro lado, por aqui, os ruídos fiscais foram o tema principal do mês de agosto, com o clima de cautela tomando conta da nossa Bolsa.
O risco do pagamento de precatórios por fora do teto de gastos para possibilitar o aumento do Bolsa Família repercutiu negativamente no país, expondo uma política fiscal mais permissiva do que se esperava para o governo atual.
Os temores acerca do conflito entre os três poderes, evidenciado pelo feriado de 7 de setembro, causando incertezas sobre a aprovação de reformas necessárias para os brasileiros, causaram ainda mais aversão ao risco-país e chegaram a resultar em queda de quase 4% no índice Bovespa no dia 08 de setembro.
Além disso, com a piora do cenário da crise hídrica, causada por um dos piores períodos de seca da história recente do país, os reservatórios de água atingiram níveis alarmantes, levando a Aneel a fazer mais um reajuste na bandeira tarifária vigente.
Esse aumento no custo da energia impôs ainda mais pressão sobre o aumento de preços, com o IPCA sofrendo elevação de 0,87% em agosto, ficando acima do teto das estimativas do mercado para o mês.
Com isso, as perspectivas de endurecimento da política monetária se elevam, impactando na abertura da curva de juros futuros, que já começa a precificar um aumento de 125 bps na próxima reunião do Copom.
Momento turbulento, mas resultados sólidos das empresas
Contudo, a elevação da taxa de juros e a aversão ao risco-país não são as únicas variáveis que importam na hora de decidir por fazer ou não um investimento na Bolsa.
Vale lembrar que, na temporada de resultados corporativos do segundo trimestre, vimos as empresas apresentando resultados sólidos, com setores mais pressionados pela pandemia – como shoppings e construtoras – demonstrando uma recuperação mais rápida do que o esperado, reforçando que a tese da “volta ao normal” já é uma realidade.
Já o setor de e-commerce, apesar da forte base de comparação do segundo trimestre de 2020, quando as lojas físicas ficaram fechadas, continuou apresentando crescimento nas vendas.
Portanto, quando olhamos para o múltiplo P/E da Bolsa como um todo, principalmente após as quedas motivadas por ruídos domésticos, visualizo uma Bolsa cada vez mais barata em relação aos retornos esperados.
Assim, embora não seja possível desconsiderarmos o risco sistemático, entendemos que muitas empresas foram fortemente estressadas por eventos não inerentes ao seu negócio, por mais que estejam entregando bons resultados e apresentem fortes perspectivas de crescimento.
Com isso, ainda vejo a Bolsa oferecendo oportunidades de entrada, em um mercado que vem sendo cada vez mais impactado por eventos pontuais.
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Pedro Serra